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Por quê?

Não culpe o especulador

O sujeito da mesa de operações de câmbio funciona como um freio a movimentos da moeda que não têm base sólida nos fundamentos da economia

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O especulador é seu amigo, é amigo da sociedade. Sim, você leu corretamente. Exagero? Claro, mas não muito.

Quando, por algum motivo, brasileiros e estrangeiros ficam excessivamente eufóricos com o Brasil e a nossa moeda começa a se apreciar "mais do que deveria", o especulador é quem entra vendendo reais nos mercados e impede uma apreciação mais forte do câmbio, que não é saudável para a economia. E o reverso também vale: à medida que o operador de câmbio percebe que há um pessimismo exagerado em relação ao futuro da economia, pessimismo que leva a uma aguda depreciação do real, ele entra comprando reais e vendendo dólares. Consequentemente, o calor sobre a cotação da nossa moeda arrefece. O sujeito lá na mesa de operações de câmbio de um banco, portanto, funciona como um freio a movimentos da moeda que não têm base sólida nos fundamentos da economia. Não porque ele se preocupe com a economia do país, mas pelo interesse próprio de ganhar dinheiro (assim como fazem o padeiro, o agricultor, todo mundo, enfim).

Bolsa de Nova York
Agente da Bolsa de Valores de Nova York

Isso tudo para pôr a bola no chão e descartar as teses conspiratórias que costumam pulular por aí quando a moeda nacional apanha no ringue dos mercados. Não que o mercado sempre acerte a direção dos preços dos ativos – longe disso –, mas que ele tenta, ah, isso tenta (os ganhos dos traders vêm do acerto, não do erro!).

Como já dissemos algumas vezes, fazer previsão sobre o futuro da taxa de câmbio é muito perigoso. Milhares de eventos imprevisíveis vão impactar a cotação, é uma incerteza dos diabos – tinhosa. Dito isso, é possível palpitar com alguma fundamentação a respeito do movimento recente (sim, análise de retrovisor). Em nossa opinião, a forte depreciação é reflexo mais de fatores internos do que de internacionais. Há não muito tempo, a preocupação com a inflação global era realmente um fator bem relevante, pois a perspectiva de juros altos na Europa e nos Estados Unidos põe pressão sobre a taxa cambial (o dinheiro prefere ir para lá, um lugar seguro, quando a taxa de retorno é razoável). Mas essa força de atração em direção ao norte perdeu importância em 2024 vis à vis 2023. Em janeiro de 2023 o dólar andava perto de 5,40, mas fechou o ano abaixo de 4,90. Parecia promissor. Mas neste momento a moeda norte-americana está sendo comprada em mercado a mais de 5,6 reais. Quase 15% de ganho frente ao real.

No mesmo período, o peso chileno se manteve relativamente estável em relação ao dólar e a moeda da Colômbia perdeu apenas 4%. Ou seja, os dados parecem sugerir que o problema é mais nosso que global.

Difícil atribuir pesos, mas uma lista de fatores causais precisa incluir: (i) a infantil guerra política entre o Planalto e o Banco Central; (ii) o alarmante déficit fiscal, que deve superar os 7% no fim de 2024; (iii) a resiliência das expectativas de inflação; e, finalmente, (iv) o temor de que o futuro Banco Central seja subserviente ao presidente Lula (juros baixos na marra significam saída de capitais e câmbio depreciado).

É um traço humano buscar alhures a culpa para nossos problemas. Na maioria das vezes, contudo, nossos tropeços são autoinfligidos. Mas para perceber isso precisa-se de humildade – ou de assessores e colunistas que não queiram bajular o chefe o tempo inteiro.

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