Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Priscilla Bacalhau
Descrição de chapéu Todas ideb

Queremos escolas com nota 10 no Ideb?

Escolas em contextos socioeconômicos mais favoráveis tendem a obter melhores resultados

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"Se todos os alunos tivessem a minha professora por dois anos, o Brasil mudaria", afirma Ana Catarina, aluna de uma escola municipal de Cruz, no Ceará. Ela falou durante o evento ocorrido na última quarta-feira em Brasília, com presença do ministro da educação e do presidente Lula. O vídeo, postado pelo presidente, sintetiza o objetivo do evento de mostrar reconhecimento do excelente resultado das únicas 21 escolas brasileiras que alcançaram a nota máxima no último Ideb.

A menina mostra sabedoria no trecho citado de sua fala. Que bom seria se todas as crianças do país tivessem professores bem formados, engajados e recebendo suporte para desempenharem suas funções com excelência! E não são muitas escolas e redes no Brasil que estão conseguindo isso. Por isso, reconhecer resultados de excelência é visto como uma estratégia para gerar incentivos para que mais escolas alcancem melhores resultados.

Para as alunas e alunos presentes no evento desta semana, este momento vai marcar para sempre suas vidas e suas escolas, todas localizadas no interior do nordeste. É um marco inesquecível receber uma premiação das mãos do presidente.

Além de proporcionar um momento único na vida destes estudantes e profissionais da educação, os objetivos de reconhecer e premiar escolas com resultados exemplares envolvem gerar incentivos para que mais escolas busquem melhorar seus desempenhos. É a lógica da meritocracia. Quem se sair melhor será recompensado diretamente.

Mas há riscos associados a essa estratégia. Primeiro, quem será de fato inspirado a melhorar seu desempenho? É razoável supor que escolas e redes que enfrentam maiores desafios podem se sentir desestimuladas por não conseguirem atingir os patamares de excelência reconhecidos.

Além disso, escolas em contextos socioeconômicos mais favoráveis tendem a obter melhores resultados. Assim, apenas reconhecer as escolas com melhor Ideb pode reforçar desigualdades existentes. As 21 escolas nota 10, por exemplo, possuem indicador de nível socioeconômico mais elevado do que os municípios em que estão localizadas.

O Ideb, como é calculado hoje, não considera diversos aspectos de desigualdades educacionais presentes na realidade brasileira. O índice combina dois fatores: taxa de aprovação dos alunos e as médias de proficiência em português e matemática. Portanto, nota 10 no Ideb significa que todos os alunos foram aprovados e tiveram desempenho no Saeb apropriado para sua série. É evidente que queremos mais escolas com tal desempenho, mas há muitos outros aspectos relevantes para atingir a plenitude da educação de qualidade.

Para mudar o Brasil, como quer imaginar a menina Ana Catarina, uma estratégia de reconhecimento de boas práticas não pode premiar apenas escolas que atingem nota máxima. É preciso gerar incentivos corretos mesmo para aquelas que estão muito longe do 10. Também merecem reconhecimento escolas que alcançam bons resultados mesmo com baixo nível socioeconômico e limitação de recursos, mesmo que não alcancem o melhor Ideb.

Estratégias de reconhecimento devem ser acompanhadas de suporte e desenvolvimento para todas as escolas, especialmente as que enfrentam mais dificuldades. Caso contrário, continuaremos reconhecendo apenas uma porção de escolas que estão conseguindo cumprir seu papel.

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