O plano original do presidente do Santos, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, era dar uma entrevista coletiva ao final do contrato de Neymar. Queria explicar com números como foi vantajoso ter o maior craque brasileiro deste século por cinco temporadas.
Pensava também em demonstrar como valeu a pena recusar ofertas do Chelsea, do Real Madrid e do Barcelona e que isso valeria mesmo sem receber nenhum centavo ao liberá-lo depois da Copa.
Neymar decidiu ir embora mais cedo e isso agravou a guerra política que toma conta do Santos há três anos. A briga cega até os mais lúcidos.
Em 2013, o Santos vendeu o atacante por 17 milhões. O valor baixo explica-se porque restavam só 11 meses do contrato. Há um mês, esta coluna pediu que a família de Neymar explicasse os valores. Explicou. Admitiu que suas empresas ganharam bem mais do que o clube vendedor. Isso não é usual. Também não é crime.
Neymar pai expôs os últimos documentos na quarta-feira. Criou empresas e assinou contratos de naturezas diferentes. A Fifa impede assinaturas de pré-acordos antes de seis meses do fim do vínculo com um time.
Neymar não fez um pré-contrato com o Barcelona. Recebeu um empréstimo de 10 milhões e ofereceu a prioridade quando a lei permitisse. Juridicamente, é quase impossível dizer que o jogador está errado. A Fazenda espanhola ameaça o Barcelona, não Neymar.
A estrutura criada em torno do jogador levou em conta a legislação tributária e as regras da Fifa.
A maneira como o atacante elaborou seus contratos pode significar um marco para jogadores de seu quilate, como foi o caso Bosman para determinar o fim da lei do passe em todos os cantos do mundo na década de 90.
A crise política do Santos acirra os ânimos, impede medir friamente a importância de se manter um craque jogando no Brasil.
Lembre-se dos números.
Ao rejeitar o Real Madrid, adiar o Barcelona e renovar seu vínculo com o Santos em 2011, Neymar passou a receber 90% de seus contratos publicitários –antes, tinha 70%. Seu salário saltou para perto de R$ 3 milhões, mas apenas R$ 150 mil saíam dos cofres santistas –o resto vinha dos patrocinadores.
Como o clube também arrecadava 10% da publicidade, os R$ 150 mil mensais retornavam à sua conta corrente. Na prática, Neymar jogou pelo Santos a custo zero por quase três anos.
O Santos ganhou muito mais com Neymar do que os 17 milhões de sua venda. Pense em Messi. Se decidir vendê-lo por 100 milhões ao final desta temporada, o Barcelona ganhará muito dinheiro, mas perderá prestígio e visibilidade.
O caso Neymar mostrou ser possível manter craques no Brasil e ainda ganhar dinheiro com isso. A guerra depois de sua venda não pode tirar essa percepção.
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