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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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São Paulo aposta em Jardine, de estilo parecido ao de Ceni, demitido do clube

Clube não tem certeza se técnico está pronto e por isso não o anunciou como efetivo

André Jardine assumiu a equipe ate o fim do Brasileiro
André Jardine assumiu a equipe ate o fim do Brasileiro - Robson Ventura / Folhapress

Raí é admirador do trabalho de André Jardine, e Leco o definiu como plano A para 2019. A filosofia de Jardine é oposta à de Diego Aguirre. Gosta da troca de passes, agressividade pelos lados de campo, marcação no campo de ataque. Treinadores assim, muitas vezes, começam a cair pelas críticas de nós mesmos, feitas nos jornais e na TV. Exemplos disso são Maurício Barbieri, Thiago Larghi, Roger Machado e Rogério Ceni.

Todos esses desejam o mesmo que Jardine: jogar em alto nível e em busca do gol.

O São Paulo não tem certeza se Jardine está pronto e por isso não o anunciou como efetivo. Também não tem convicção de que o estilo é o ideal para ser adotado numa temporada com Libertadores, Brasileiro, Copa do Brasil e Paulista. É ótimo jogar para a frente. A roda viva de calendário cheio e dois elencos diferentes no ano atrapalha muito.

Atrapalhou Rogério Ceni. Nesta semana, o técnico campeão da Série B fez uma avaliação do que o impediu de ter, no Morumbi, o mesmo sucesso do Fortaleza. Não tocou na sua inexperiência, mas pôs o dedo em feridas importantes. Citou perdas de jogadores como David Neres, Luiz Araújo e Thiago Mendes.

Tem gente que nem se lembra deles. Os dois últimos eram esteio da equipe.

Rogério citou uma vitória por 2 a 0 sobre o Palmeiras, em maio, quando organizou a equipe para ter Luiz Araújo no mano a mano, nos contra-ataques. O jovem atacante fez um dos gols. Daquele dia, um ano e meio atrás, o São Paulo já negociou nove titulares.

Nesse ciclo vicioso, é sempre muito mais fácil apostar em “times de resposta”, como o de Aguirre, do que numa equipe planejada para atacar. Mais fácil sempre é fechar a defesa e treinar bolas paradas. É o cardápio do Brasileiro. Poderá ser muito melhor, com mais treinos, menos êxodo de craques e mais sequência de comissões técnicas.

Por tudo isso, apostar em Jardine parece um sopro de inteligência. Ao mesmo tempo, uma contradição.
Porque significa apostar no estilo que Rogério Ceni tentava implantar, antes de ser demitido. Com o risco ampliado de Jardine não ter o respeito da crítica e o carinho da torcida que Rogério possui. Mas está fora de questão o retorno de Rogério agora. O clube não quer trabalhar com o mito, e a recíproca é verdadeira, enquanto Leco for o presidente. Se contratasse Rogério, Raí poderia ser candidato ao prêmio Nobel da paz.

Se apostar em Jardine e der tempo para os resultados aparecerem, fará bem ao São Paulo e ao futebol brasileiro.

Reflexões

O Palmeiras pode ganhar o título na mesma semana em que elegerá seu novo presidente. No passado recente, eleições no clube significavam o sonho de voltar a ter equipes protagonistas. Hoje, o Palmeiras tem. Mas a eleição exige reflexões importantes, postas pelo candidato da oposição, Genaro Marino.

Está em questão a soberania do clube ou a submissão à patrocinadora, Leila Pereira, que contribui com apenas 13% da receita. O Palmeiras conseguiu, na soma das gestões Paulo Nobre-Maurício Galiotte, fazer do sócio torcedor um aliado maior do que o patrocínio. Está em questão a transição do modelo de contratações caras para um projeto de ter um terço do elenco vindo da base. Alexandre Mattos diz concordar com isso, mas ainda parece sonho. 

Está em debate o que o Palmeiras precisa fazer para ser soberano e forte por décadas, e não por um período rápido, em que estampa uma marca na camisa, como na era Parmalat.

Além de abrir um champanhe, o eleitor palmeirense deve pensar no que o clube planeja para seus próximos dez anos.

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