Tiago Nunes já percebeu que Corinthians, em ano eleitoral, impõe mais dificuldades do que as de um grande clube em crise. Neste domingo (15), precisa vencer o Ituano, para não correr o risco de eliminação precoce do Paulista. Se perder, o fracasso pode se confirmar daqui a uma semana, em Itaquera, contra o Palmeiras.
Está claro que Andrés Sanchez pensa em manter Tiago Nunes até o final do ano. O que motiva as trocas de técnico em massa é a quantidade de torcedores que se vestem de terno e gravata e julgam ter o direito de dar opinião. Na estrutura política, esse tipo de Bozó é conhecido como conselheiro e, se você tem lido esta coluna, sabe: se conselheiro fosse bom, a gente vendia.
Mas ser eliminado na fase de grupos do Paulista, com uma rodada de antecipação e perdendo para o maior rival em casa, é dessas coisas que tornam difícil convencer os conselheiros de que o trabalho vai dar resultado no futuro.
A última eliminação precoce do Corinthians no Estadual aconteceu em 2014, ano em que Mano Menezes substituiu Tite e foi agente de uma reformulação de elenco. No último jogo da fase de classificação, contra o Atlético Sorocaba, Mano escalou Cássio, Fagner, Felipe, Gil e Fábio Santos; Ralf e Guilherme; Jadson, Renato Augusto e Romarinho; Luciano. Oito titulares campeões brasileiros no ano seguinte, no retorno de Tite.
Desde que o Paulista voltou a ter mata-matas, em 2007, houve 13 torneios, e o Corinthians não chegou às semifinais em 5. No passado mais distante, o clube não se classificou para a Primeira Divisão do Brasileiro de 1982, porque ficou em oitavo lugar no Estadual do ano anterior.
O Corinthians é um time vencedor, mas também perde.
Na Taça de Prata, segunda divisão da época, começou a nascer a Democracia Corinthiana, com Sócrates, Zenon, Casagrande e Wladimir. Politicamente, aquele projeto aconteceu porque Vicente Matheus, impedido de concorrer ao seu sexto mandato consecutivo, indicou Waldemar Pires, a quem pretendia fazer de fantoche. Pois Pires tomou o poder e decidiu exercer a presidência.
Os resultados esportivos lhe deram relativa paz política e isso conduziu a um dos períodos mais especiais da história corintiana.
Andrés Sanchez não pode e não quer concorrer à reeleição. Isso, aliado à discussão sobre o financiamento do estádio e ao congelamento das receitas na faixa de R$ 450 milhões —o Flamengo arrecadou R$ 940 milhões em 2019—, acirra a disputa eleitoral e aumenta o número de pessoas interessadas em dar conselhos.
Nas últimas eleições, Andrés Sanchez foi eleito com aproximadamente 30% dos votos, num pleito com outros quatro candidatos.
Felipe Ezabella, Roque Citadini e Romeu Tuma Júnior aproximam-se, e seus grupos pensam em ter apenas um candidato na eleição. Talvez Mario Gobbi, ex-aliado de Andrés, presidente campeão mundial de 2012 e hoje oposição.
O quinto candidato de três anos atrás é Paulo Garcia, mais ou menos acomodado no cenário político, como se fosse o presidente de um partido político presenteado com ministérios estratégicos em Brasília. Não faz parte do governo, mas dá sustentação.
Nenhuma dessas vozes vai se levantar para defender o trabalho e julgar que Tiago Nunes representa uma tentativa de mudança na forma de jogo do Corinthians. Quando aliados, Andrés e Gobbi preservaram técnicos nas derrotas. Mano Menezes perdeu a final da Copa do Brasil para o Sport e prosseguiu. Tite foi eliminado contra o Tolima e continuou.
A política aumenta a dificuldade de saber se Tiago Nunes terá o mesmo sucesso.
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