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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Futebol Internacional

Lewandowski foi o melhor do ano, ainda que não seja o melhor do planeta

Atacante polonês marcou 55 gols em 47 partidas da temporada 2019/2020

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Eyjafjallajokull seria apenas uma sopa de letrinhas, não tivesse entrado na história do futebol mundial com o apelido de “vulcão da Islândia". Sua erupção, em 14 de abril de 2010, provocou a viagem de ônibus do Barcelona, de Guardiola, para enfrentar a Internazionale, em Milão.

Até hoje, o Barça atribui ao cansaço a derrota por 3 a 1 para a Inter e a consequente eliminação nas semifinais daquela Champions League.

Naquele abril, Lewandowski tinha sido contratado pelo Blackburn, para ser dirigido pelo técnico inglês Sam Allardyce, que pagou caro para tirá-lo do Lech Posznan, da Polônia.

O vulcão também impediu o voo para a Inglaterra, e Jurgen Klopp interceptou a negociação. Lewa viajou de carro para Dortmund e virou craque do Borussia.

Três anos depois, marcou quatro gols na semifinal da Champions, num 4 a 1 sobre o Real Madrid, de José Mourinho. O português ganhou uma Champions por causa do vulcão da Islândia e perdeu outra, porque Lewandowski não voou para a Inglaterra.

Seis meses depois da erupção do Eyjafjallajokull, Sam Allardyce foi demitido pelos novos acionistas do Blackburn. Lewa poderia ter desaparecido nas cinzas do vulcão. Em vez disso, tornou-se o maior goleador do planeta e eleito melhor jogador do mundo.

Quando Modric ganhou de Cristiano Ronaldo e Messi, interrompeu uma sequência de dez temporadas seguidas de domínio luso-argentino, mas não comoveu. Modric não foi nem sequer o melhor da Copa do Mundo. Não mereceu.

Com Lewandowski, é diferente. Foi o melhor do ano, é inegável. Marcou 55 gols em 47 partidas.

Mas Lewa não é nem de perto o melhor do planeta nem o melhor da Polônia. É possível lembrar de Ernst Willimowski, autor de quatro gols poloneses na derrota por 6 a 5 para o Brasil, na Copa do Mundo de 1938.

Willimowski foi a primeira estrela do futebol da Polônia e foi jogar pelo Munique 1860, 80 anos antes de Lewa virar ídolo no clube rival da mesma cidade.

O melhor polonês de todos os tempos foi Boniek, craque das Copas de 1978, 1982 e 1986.

Pela primeira vez na história, os três finalistas do prêmio têm mais de 30 anos. Pode-se apontar a pandemia como causadora desse fenômeno, mas o Brasil tem resultado oposto. A maioria dos críticos esperava hegemonia de Flamengo e Palmeiras. Hoje, falamos de São Paulo e Santos, times com cinco garotos titulares.

Robert Lewandowski no telão, com o prêmio de melhor jogador da Fifa, em cerimônia virtual
Robert Lewandowski no telão, com o prêmio de melhor jogador da Fifa, em cerimônia virtual - Valeriano Di Domenico/AFP

O jejum de prêmios para brasileiros incomoda muita gente, como se fosse um símbolo do declínio do futebol daqui. Não é. Nossa queda se espelha pela falta de títulos da seleção, não de troféus individuais.

Além disso, nos últimos 12 anos, só ganharam Cristiano Ronaldo e Messi, além do voto no croata Modric e, agora, no polonês Lewandowski.

O futebol de alto nível concentrou-se em dez clubes de Inglaterra, França, Alemanha, Espanha e Itália e espalhou sua cultura por países antes improváveis. Nunca se imaginou que o melhor do planeta fosse polonês ou croata. Parece descentralização, mas não é.

Se fosse, Marcelo Bielsa não seria candidato a melhor técnico do planeta por ser campeão da segunda divisão inglesa. Bielsa é mestre de Guardiola e merecia uma estátua, não a candidatura a melhor treinador da temporada.

Marcelo Gallardo é seu compatriota e foi muito melhor nos últimos cinco anos. Como trabalha na América do Sul, ninguém vê.

Lewandowski é o melhor jogador do ano, não do mundo. Seu prêmio é ao trabalho, causado um pouco pela sorte do destino. Dez anos depois do vulcão da Islândia, o polonês é uma erupção de talento.​

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