Zé Maluco, Zé Roberto, Parafuso, Saquarema e Tio Peter; Flavinho, Sérgio Bragança e Sérgio Perez; Capitão Falcon, Léo e Rodrigo Suassuna. Parece escalação de time de futebol, mas é um grupo de amigos, residente na Barra da Tijuca, que planeja uma pescaria há 18 meses.
Tiveram de adiar a aventura por causa da pandemia e reiniciaram os planos em abril, para viajarem em 12 de novembro. Conversam sobre instalações, hospedagem, transporte e equipamentos todos os dias.
A última pescaria rendeu longas conversas. Quem almoçou ao redor deles ouviu histórias sobre as delícias culinárias que consumiram: costela, leitão, arroz carreteiro, picanha, maminha, linguiça…
Peixe? Nenhum!
A pescaria pode dar errado outra vez. Mesmo assim, planejam todos os dias a próxima viagem ao rio Tietê, em Araçatuba, pertinho de Glicério, onde nasceu Jair Bolsonaro.
Sete meses de preparação para a pesca!
A Copa América começa daqui a nove dias e até quarta-feira (2) não se sabia qual seria o estádio a receber os jogos em Goiânia. Eu já programei festa de aniversário de meus filhos pagando por seis meses, em prestações, o buffet infantil.
Muitos pais de classe média fizeram o mesmo, o que demonstra que não se organiza uma festa de aniversário em duas semanas.
Já a Copa América será promovida, sem comitê organizador, em 13 dias. É provável que a Olimpíada de Tóquio não registre recorde mundial tão surpreendente.
Todos sabemos que o Brasil tem outros recordes para se envergonhar.
As diferenças entre Brasileirão, Olimpíada e Copa América são claras para todos os que não buscam a escuridão. Se o torneio sul-americano fosse na Argentina ou na Colômbia, os dois países estariam tentando cumprir os contratos que assinaram, caso também do Japão com a Olimpíada. O verbo tentar se aplica pela dificuldade de manter o que foi combinado e dar segurança e saúde à população.
Os campeonatos nacionais, como a Europa mostrou, apostam que dentro de campo há pouco risco, daí Inglaterra, Portugal, França e Argentina terem adotado lockdown sem proibir o futebol. Também é uma tentativa de manter de pé um setor da economia, sustentar empregos. Todos conhecemos as dificuldades.
Copa América no Brasil é inaugurar um problema novo, que pertencia a argentinos e colombianos. Ninguém aqui assumiu esse compromisso há dois, três ou dez anos.
Ninguém aqui planejou pescar sete meses atrás.
Na segunda-feira (31), a entrevista coletiva dos jogadores da seleção brasileira foi cancelada, logo depois do anúncio de que o torneio internacional seria disputado no Brasil. Não se critique a assessoria de imprensa, porque sua situação era delicada. Como evitar perguntas sobre a Copa América? E como esperar mais do que respostas vazias, inconclusivas e temerosas de Lucas Paquetá e Fred, os dois jogadores previamente escalados para a conferência?
Demonstração de que até na concentração da Granja Comary a escolha da nova sede da Copa América causou impacto.
A seleção entra em campo nesta sexta-feira (4) para seu real compromisso: classificar-se para o Mundial. Não é fácil jogar eliminatórias em turno e returno na América do Sul inteira, mas é a tentativa de manter de pé a Copa do Mundo.
O Brasil tem a única seleção do planeta a vencer todos os seus jogos desde a paralisação da pandemia. Apenas quatro. Os europeus preparam-se para a Eurocopa e já disputaram 11 partidas.
Vencer o Equador significará o avanço no projeto para ser campeão mundial em dezembro de 2022. É mais ou menos o tempo que Flavinho e Zé Maluco organizam a pescaria em Araçatuba.
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