O número 50 exposto na taça do Atlético, campeão brasileiro de 2021, expõe a contradição com o anúncio feito pela CBF, há onze anos, sobre a unificação dos títulos brasileiros.
É sabido que foi político o processo de soma das Taças Brasil e Robertão com o Campeonato Nacional, criado com este nome, por João Havelange, em 1971.
Atenção: o nome não era Campeonato Brasileiro, mas Campeonato Nacional. Mais tarde, foi Copa Brasil entre 1975 e 1979, Taça de Ouro entre 1980 e 1985, voltou a Copa Brasil em 1986, quase sempre com o apelido de Brasileirão.
Fui veementemente contra a unificação, no debate que se criou com o dossiê levado à CBF por Santos, Cruzeiro, Palmeiras, Botafogo e Bahia, no fim da década de 2000. Não é preciso chamar Dom Pedro 2º de Presidente da República para saber quem era o chefe de Estado, no Império.
Por outro lado, já ouvi torcedores afirmarem que passaram a conhecer uma história de que não faziam ideia existir. O Fortaleza se reconhece com dois vice-campeonatos brasileiros, o Bahia usa duas estrelas sobre seu escudo, o Botafogo pintou sua sede com a frase "Bicampeão brasileiro – 1968 e 1995."
Haveria mil maneiras para unificar. O Robertão teve este nome, porque foi a ampliação do Rio-São Paulo. Podia-se, portanto, unificar desde a criação do torneio regional, em 1933. Ou juntar a Taça Brasil à Copa do Brasil. Ou não fazer nada.
O pior é unificar sob um critério – Taça Brasil se somou ao Robertão e ao Campeonato Nacional – e depois festejar o cinquentenário, quando faz 66 anos da primeira Taça Brasil. "Este ano, comemoramos os 50 anos do Campeonato Brasileiro tal qual é, independentemente dos outros serem títulos nacionais reconhecidos", disse a CBF ao ser questionada sobre a razão do selo comemorativo.
Só precisamos saber se Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil ou se o invadiu. Se foi Proclamação da República ou golpe de estado. Não vamos nem falar sobre 1964, porque sabe-se que foi golpe, mesmo que minha professora da quarta série dissesse que foi revolução. Também aprendi sobre a revolução de 1930 e não foi bem assim.
Sabemos que a Semana de Arte Moderna aconteceu no Theatro Municipal, entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, e o centenário discutirá que o modernismo não se resumiu a São Paulo. Isso não deveria excluir que os cem anos sejam causa justa para contar a este país iletrado quem foram Mário de Andrade, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti...
Contar também a ausência de Tarsila do Amaral, por estar em Paris naquele período, e espalhar o conhecimento sobre o que havia de arte moderna em outros lugares do país.
Não sabemos contar a história do Brasil e, no futebol, é pior. Passamos 80 anos discutindo se o campeão carioca de 1907 foi o Fluminense ou o Botafogo, caso que terminou em divisão do título. Seria um escândalo, não houvesse outros sete títulos cariocas e onze paulistas divididos em duas ligas e dois clubes.
Assim como o Flamengo é campeão carioca duas vezes no mesmo ano (1979) e o Palmeiras ganhou dois brasileiros em 1967, levando em conta a unificação.
Se não unificar, dá no mesmo, porque ganhou o Robertão e a Taça Brasil.
Não é possível ouvir gente séria dizendo: "Na minha opinião, vale desde 1967" ou "Para mim, vale desde 1971". Sou contra a unificação, mas uma vez unificado só quero saber como é que vamos contar a nossa história.
Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil? Ou invadiu? Lamartine Babo consagrou a marchinha: "Quem foi que inventou o Brasil? Foi Seu Cabral, dois meses depois do Carnaval".
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