Ronaldo e o Cruzeiro surpreenderam o país com o primeiro anúncio de empresário multinacional interessado em investir num grande clube do Brasil, depois da aprovação da lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
A novidade é que a nova legislação faz brasileiros, antes interessados em adquirir clubes na Europa, entenderem que é possível ter sucesso aqui mesmo. Em 2018, Ronaldo Luís Nazário de Lima comprou o Valladolid, da Espanha. Na mesma época, o banqueiro Ricardo Guimarães negociou para comprar o Vitória de Guimarães, em Portugal.
Portugal parecia-lhe mais lucrativo do que o Brasil. A extraordinária notícia envolvendo Ronaldo e Cruzeiro é que que esse dinheiro permanecerá dentro do país.
A surpresa veio porque se olha para o Cruzeiro como um clube falido e porque se imaginava que viria um empresário do Oriente Médio ou da Inglaterra. Acontece que a carreira empresarial de Ronaldo faz dele um Fenômeno, apelido dos tempos de jogador.
Diferentemente de vários de seus colegas, investiu em atividades econômicas variadas, foi sócio do Fort Lauderdale, dos Estados Unidos, e detém atualmente 73% das ações do Valladolid.
O clube da região autônoma de Castela e León não é um exemplo de sucesso esportivo desde a compra pelo empresário brasileiro. Nem de fracasso. O Valladolid terminou em 16º lugar a temporada 2018/19, a primeira e incompleta depois do anúncio da aquisição. Foi 13º colocado no ano seguinte e terminou rebaixado em 2020/21, penúltimo colocado da Liga Espanhola.
Em síntese, a vida do Valladolid de Ronaldo é exatamente igual à trajetória do clube em seus 93 anos: altos e baixos. Depois do descenso, Ronaldo se pronunciou e disse que pretende voltar o mais rapidamente possível. Está em quinto lugar na Segunda Divisão.
A Espanha obrigou todos os seus clubes com balanços no vermelho a se tornarem sociedades anônimas desportivas (SAD), em 1994. Só Barcelona, Real Madrid, Athletic Bilbao e Osasuna livraram-se da obrigatoriedade. Desde então, o Real venceu sete Champions League e o Barcelona ganhou quatro. São clubes associativos, não empresas.
O Atlético de Madrid não ganhou nenhuma Champions e passou duas temporadas na Segunda Divisão nestas 27 temporadas. Virar empresa não produz milagre. O Atlético melhorou quando fez seu trabalho com mais seriedade. É o atual campeão.
As diferenças entre o Valladolid e o Cruzeiro são a ambição por títulos dos mineiros e a promessa de devolvê-lo ao seu lugar. Não vai ser simples.
Mas a compra é relativamente barata. Serão R$ 400 milhões, que devem ser investidos no clube social, e dez anos para pagar a dívida de R$ 1 bilhão. Em euros, são 155 milhões. É menos do que o Paris Saint-Germain pagou por Neymar.
Em 2003, o oligarca russo Roman Abramovich comprou o Chelsea por 140 milhões de euros. Também era uma pechincha, porque comprou na baixa.
Abramovich queria tornar o Chelsea poderoso como o Real Madrid e ganhou duas Champions League em menos de duas décadas. Ronaldo não prometeu mudar a história do Valladolid, mas anuncia querer fazer o Cruzeiro voltar a seu lugar.
Historicamente, o Cruzeiro é vencedor e vendedor. Certamente, o Fenômeno se lembrará de que o clube que agora adquire negociou-o com o PSV Eindhoven por 6 milhões de dólares. Descobrir jogadores e depois vendê-los para o exterior pode ser parte da estratégia de retorno financeiro e ninguém poderá acusar o empresário de fazer diferente do que o Cruzeiro fez.
O bom sinal é que há gente com dinheiro julgando que vale a pena investir no futebol do Brasil.
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