Abel Ferreira sabia que o Chelsea era uma grande serra a ser enfrentada. "Se for enfrentar uma montanha, necessita fazer de uma maneira diferente." Foi o que escreveu em seu famoso texto no site "The Coaches Voice" (A Voz dos Técnicos).
"Se o teu adversário está no mesmo nível que você, está tudo bem, pode atacá-lo." Mas Abel disse, ainda antes da viagem para Abu Dhabi, que era necessário admitir: o Chelsea é melhor.
Ou era.
(Confira o lance a lance da final do Mundial de Clubes)
Porque a única maneira de vencer era usar estratégias diferentes, surpreendentes, capazes de tirar o Golias do conforto de seu castelo. Tirou.
O Palmeiras teve excelente atuação, num confronto desigual contra um rival europeu. Mas com uma decisão tática defensiva, como se sabia que Abel Ferreira faria.
Rony se sacrificou para atuar como ala direita e a equipe marcou individual.
Scarpa e Rony pegavam os alas, Azpilicueta e Hudson Odoi. Piquerez marcava Mount, com Marcos Rocha acompanhando Havertz. Luan e Gustavo Gómez se revezavam com Lukaku, Zé Rafael com Kanté, Danilo com Kovacic.
O Palmeiras atrasou seu time, mas levou perigo em contra-ataques, a ponto de terminar o primeiro tempo com o mesmo número de finalizações certas do Chelsea. Terminou o tempo normal com três contra duas dos ingleses.
Foi bem diferente da vitória do Corinthians sobre o rival inglês, em 2012, ou do São Paulo, contra o Liverpool, quando Rogério Ceni foi o melhor em campo e viu 21 chutes dos ingleses contra quatro do São Paulo.
No passado, os duelos entre América do Sul x Europa tinham sempre os europeus apostando na estratégia e os sul-americanos no ataque. Hoje, é quase impossível jogar diferente. O Flamengo tentou encarar de frente o Liverpool e só perdeu na prorrogação. O Palmeiras teve muitos momentos de igual para igual. Sempre graças à estratégia e à marcação.
Dos jogadores do Chelsea, o único desmarcado era Thiago Silva, que tentou seu primeiro chute de longa distância aos 45 do primeiro tempo. Levou perigo. E o mais decisivo entre os dirigidos por Thomas Tuchel era Lukaku. A única bola que chegou à sua capacidade de finalização pegou Lukaku um degrau acima de Luan, na cabeça. Gol do Chelsea.
As câmeras flagraram palmeirenses, que deram show na arquibancada, apontando os dois dedos indicadores em direção à cabeça, repetindo o gesto de Abel Ferreira. Pois Thiago Silva não usou a cabeça, e sim a mão. Pênalti cobrado com precisão por Raphael Veiga: 1 x 1.
O Chelsea respeitou o Palmeiras, a ponto de contar em seu site oficial a história da Copa Rio. A matéria explicava para a torcida blue de Londres a importância do Mundial de Clubes para um povo que sempre sonhou com ele. Não se perca pela rivalidade, não pense que a Copa Rio só ganhou importância, para o povo verde, depois dos mundiais dos rivais.
Não, há 40 anos os passeios pela antiga sala de troféus do Parque Antarctica sempre tinham a taça de 1951 como ponto de atração. Um dos méritos de Abel Ferreira foi entender o desejo, compreender a alma do povo palmeirense.
Quem simplesmente andasse pelas ruas de Perdizes no sábado pela manhã e tivesse empatia entenderia a importância do que se passava. Abel entendeu.
Os jogadores entraram na alma da camisa que vestiram.
As duas últimas finais entre brasileiros e ingleses mostra que o Brasil não está tão distante. Duas prorrogações, duas vezes por detalhes.
O Palmeiras mereceu vencer pelo esforço. A desigualdade é problema da Fifa sobre o desenvolvimento do futebol no planeta.
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