O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, não gostou de Tite ter comunicado publicamente que deixará a seleção depois da Copa do Mundo. Entende que, em qualquer cargo, o aviso da saída deve ser feito a quem chefia, antes de externado.

Verdade que a entidade passou por enorme vácuo de poder entre a saída de Rogério Caboclo, por assédio sexual e moral, e a posse de seu novo mandatário. Tite avisou a opinião pública em fevereiro. Ednaldo só ganhou a eleição em março.

Mas Tite produziu, sem querer, uma série de especulações precoces. Como Fernando Henrique Cardoso fez em relação à eleição presidencial, manifestou seu democrático desejo. Afirmou preferir que o próximo selecionador do time nacional seja brasileiro e disse que não pretende interferir na escolha.

É a liturgia do cargo –ou mais ou menos isso.

Está tão claro que Abel Ferreira faz o melhor trabalho em clubes quanto a sabedoria de que a CBF só vai definir em cima da hora, de acordo com o suposto desejo das ruas.

No futebol, como na vida, adoramos líderes carismáticos e decisões populistas, inaugurar obras inacabadas e baixar preços temporariamente na política, impressionar-se por conquistas recentes, em vez de apostar no conhecimento de longo prazo na bola.

Se o maior deficit deste país é a educação, natural que a teoria seja o ponto fraco dos treinadores daqui. Se o presidente da República se refere ao Círio de Nazaré com a letra S, como se fosse da colônia síria, natural que advogados, médicos e técnicos de futebol tenham carência de instrução formal.

Bem entendido, cultura não tem nada a ver com inteligência, assim como liderança não carrega nenhuma relação com grito.

Fernando Diniz é um grande candidato a melhor técnico do Brasil, no futuro. Rogério Ceni, também. Hoje, Diniz parece mais candidato à seleção do que Rogério, pela surpreendente campanha do Fluminense. No programa "Bem, Amigos", questionado sobre o que pensa sobre "jogo de posição", deu uma versão curta, sem correr riscos, após afirmar: "Sou mais da prática do que da teoria".

É o que nos falta: conceito. Toda a sabedoria do futebol brasileiro está baseada na relação boca a boca. Se você viu Telê Santana e Zagallo darem treinos, sabe como faziam. Se não viu, não lerá em nenhum livro. Diferentemente de Portugal, Itália, França ou Alemanha.

Informação é a coisa mais moderna deste mundo. Sem ela, não se sabe nem sequer onde é o botão de liga e desliga do computador, para escrever estas linhas.

E, no entanto, nosso melhor técnico, Tite, diz que não estuda idiomas, porque pode gerar especulações sobre para qual país poderá ir depois da Copa do Mundo. Não, Tite! O mundo fala inglês, para se comunicar em qualquer lugar ou emprego, até mesmo executivos que vivem e não pretendem sair do Brasil.

Ainda apostamos em decisões repentinas. Dorival Júnior é excelente. Pode ser o técnico da seleção. A escolha só não pode ser por um arroubo, por ganhar Libertadores e Copa do Brasil em duas semanas. Assim como Abel não pode ser o eleito por conquistar o campeonato pelo Palmeiras.

A decisão precisa ser madura, baseada em experiência, inteligência, cultura e respeito. Não pelo impulso de um troféu, uma festa de torcida.

Leonel Brizola disse, nos debates presidenciais de 1989: "Se tu não queres votar em mim, há aqui gente digna". O não rotundo de Brizola, há 33 anos, hoje tem de ser à ignorância. Passou da hora de o futebol brasileiro apostar em conhecimento e cultura. O Brasil, também.