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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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O tango virou rock na classificação da Argentina

No estádio 974, a seleção de Messi e Scaloni venceu a Polônia e seus nervos

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Lionel Scaloni telefonou a Messi logo depois da Copa do Mundo de 2018. Todos estavam insatisfeitos na seleção. As viagens tinham sempre mais de 200 convidados no avião, o ambiente era tóxico, a relação com Jorge Sampaoli tinha sido difícil para o elenco.

A campanha na Rússia foi traumática. Isso e as derrotas em duas finais de Copas Américas para o Chile faziam Messi pensar em não jogar mais por seu país.

Ao telefone, Scaloni prometeu que a bagunça acabaria e a delegação teria apenas os jogadores nas viagens. "Mas eu preciso de você. Nós precisamos muito", pediu Scaloni.

"Se for assim, eu topo", Messi respondeu.

Assim começou um trabalho que levou a 36 partidas de invencibilidade, entre a derrota para o Brasil na Copa América de 2019, no Mineirão, e a estreia na Copa do Qatar, contra a Arábia Saudita.

O comprometimento fez encerrar o jejum de 26 anos sem nenhum título entre os profissionais. Messi e Di María foram campeões olímpicos.

Estranho entender por que Scaloni mudou cinco titulares depois de perder pela primeira vez em três anos, e por qual razão mexeu em mais quatro posições depois de ganhar do México, pela segunda rodada.

A pressão deveria ter diminuído depois da quebra do jejum de títulos, na Copa América de 2021, no Maracanã, cantada pelos jogadores no vestiário. Mas o choro do assistente técnico Pablo Aimar escancarou que os argentinos têm ainda questões emocionais para solucionar.

"Isso deveria ser apenas uma partida de futebol", disse Lionel Scaloni. Não é, amigo... Isso é Copa do Mundo!

Para os argentinos, muito mais do que uma narração de Galvão Bueno, fase de grupos de Copa é um tango.

Eliminada na primeira fase quatro vezes, também ficou em terceiro em suas chaves de 1990 e 1994. Só avançou na repescagem, porque quatro terceiros colocados podiam disputar as oitavas de final.

Messi perdeu pênalti, defendido por Szczesny, e os argentinos finalizaram 14 vezes no primeiro tempo, mas pararam no paredão polonês. Voltaram nervosos para o segundo tempo e mudaram o ânimo do estádio com o gol de Mac Allister no primeiro minuto.

Torcida argentina nas arquibancadas
Torcedores argentinos sofreram e vibraram em Doha - Odd Andersen/AFP

A arquibancada tem os nervos tão à flor da pele quanto Pablo Aimar, e as imagens de choros compulsivos dão essa demonstração. As unhas roídas, dentes rangendo e dedos puxando os próprios cabelos são, na maioria, de gente que veio de Buenos Aires, Mar del Plata, Tandil, Mendoza e Santa Fé. No metrô, se vê e é possível saber a cidade de cada um.

O perfil do torcedor argentino na Copa é diferente do brasileiro. Um pouco é carisma da camisa amarela, que não é de nenhum partido político, mas de toda a população. Vê-se torcida do Brasil com sotaque de Bangladesh, do Líbano, do Nepal, de todos os países que têm trabalhadores explorados em Doha. A Argentina tem também. Mas tem mais gente que veio da América em busca do sonho de ver o título de Messi.

O nervosismo de quem vai ter de pagar a conta faz mais sentido do que o de uma equipe tão experiente, disputando o que Scaloni define como "apenas uma partida de futebol".

No estádio 974, a seleção argentina venceu a Polônia e seus nervos, classificou-se em primeiro lugar e está, no desenho das chaves, com chance de enfrentar o Brasil nas semifinais.

Com a vitória sobre a Polônia, o tango virou rock.

O time de Scaloni fez sua melhor atuação na fase de grupos e disputará as oitavas contra a Austrália como favorita.

Messi e Lewandowski seguem na Copa.

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