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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Espanha campeã mostra diferença para o Brasil

Atletas da seleção vencedora da Copa do Mundo aplicam todos os ensinamentos de Johan Cruyff, globalizados por Guardiola

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A final da Copa do Mundo, vencida pela Espanha, contraposta à rodada do Brasileiro, explicita a diferença de cultura do jogo.

Mostra o nosso deficit.

As espanholas aplicam todos os ensinamentos de Johan Cruyff, globalizados por Guardiola. Não esperam que uma de suas jogadoras se coloque na função de armação. O melhor organizador é o "pressing".

E pressionam a ponto de realizar oito recuperações de bola no campo de ataque.

O excelente narrador Rogério Corrêa, do SporTV, durante Cruzeiro x Corinthians, verificou a saída de jogo de Luxemburgo, no tiro de meta, e afirmou: "Marcar no campo de ataque é uma coisa que pegou mesmo no futebol brasileiro".

Com 20 anos de atraso.

A Espanha, da lateral esquerda Olga Carmona, pressiona as adversárias para recuperar rapidamente a posse da bola - William West/AFP

Apesar de ter havido times, como o Grêmio campeão da Copa do Brasil sob o comando de Tite, em 2001, ou o Flamengo de Cláudio Coutinho, que asfixiavam os adversários na saída do tiro de meta, é assustador pensar que alguém no Brasil veja isso como uma novidade.

O atraso não passa pela falta de talento de técnicos brasileiros. Passa por não permitir que trabalhos amadureçam. O técnico Jorge Vilda, cuja saída foi solicitada por 15 jogadoras, das quais três foram à Copa e jogaram a final, trabalha na seleção espanhola há oito anos.

Chego à redação do diário Record, em Lisboa. Um dos diretores me diz: "Vocês, no Brasil, trocam técnicos demais". Ao ouvir a concordância, ele emenda: "Há portugueses a trabalhar no Campeonato Brasileiro que, se andarem pelas ruas de Portugal, ninguém os conhece".

Visito um primo, Jorge Coelho, campeão de basquete pelo Benfica na década de 1980. Assistimos juntos a Inglaterra x Austrália, semifinal da Copa feminina: "Vocês, no Brasil, têm de mudar muito o conceito do jogo, ou vão ficar ainda mais para trás." O mundo está vendo o que não está avançando aqui com muito mais clareza do que nós.

O Brasil continua sendo o maior exportador de jogadores do planeta. A Espanha, ao ser campeã mundial feminina, com o mesmo estilo com que conquistou a Copa dos homens há 13 anos, exporta ideais.

Quanto mais craques houver, melhor. Mas importa mesmo compreender os conceitos de pressão, posse de bola, amplitude, e usar o espaço entre as linhas. Não se ganha sempre assim –nem de qualquer outra forma. Daí a Espanha não passar das oitavas de final desde o título de 2010, no masculino. O Brasil só avançou uma fase a mais nas últimas duas –e tem mais talento.

A questão não é vencer ou perder. Trata-se de compreender.

Entender a transformação do jogo.

Para muitos de nós, ainda parece haver um esporte individual, disputado por 22 jogadores, em que, cada um deles tem a soberania de decidir por sua conta, a partir do momento em que encontra espaços para driblar adversários até o fundo da rede.

O futebol pode ter sido assim no passado. Não é mais. O campo diminuiu, porque o preparo físico aumentou. Ainda que Vanderlei Luxemburgo diga, com sabedoria, que os espaços cresceram com a mudança da regra do tiro de meta, que permite a cobrança dentro da área e induz o ataque a marcar à frente.

Sobra terreno atrás.

Fora esta situação, quanto mais se corre, menos espaço sobra. Significa que mais treino é necessário para se formar um bom time.

Campinho PVC 2108
A Espanha: 4-3-3 só é possível participando na defesa e no ataque sempre - Editoria de Arte
Campinho PVC 2108
Ingaterra no 3-4-2-1: transição rápida sem conseguir pegar a bola - Editoria de Arte

PONTO PARA ABEL

O primeiro gol do Palmeiras contra o Cuiabá foi fruto de um trabalho coletivo árduo. Por três vezes, o time de António Oliveira tentou sair jogando. Em todas elas, o Palmeiras recuperou a bola no ataque. Polivalente, o zagueiro Luan roubou, conduziu, driblou e cruzou para Raphael Veiga fazer 1 a 0.

ERRO DE GILBERTO

O desabafo de Felipe Machado, do Cruzeiro, depois de ter sofrido o empate no último minuto, é sintomático: "Pelo amor de Deus, segura a bola!". Referia-se à jogada desperdiçada por Gilberto, que gerou o gol corintiano. Com direito a palavrão, Machado explicitou que não se resolve nenhum jogo sozinho.

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