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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Mesmo jovem demais para envelhecer aos 31 anos, Neymar desistiu

Será lembrado como um grande jogador, que fez menos do que poderia

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Neymar desistiu.

A impressão que deixa a sua ida para o Al Hilal permite acreditar mais nessa tese do que na ideia da criação de um novo campeonato saudita assistido em todo o mundo.

Primeiro, porque não será simples fazer o planeta conhecer, em médio prazo, a cultura e os símbolos de clubes como Al Hilal, Al Nassr, Al Ittihad e Al Ahli.

Segundo, porque mesmo concorrendo com Cristiano Ronaldo e Benzema, a classe baixa do torneio saudita não terá jogadores de primeiro nível. Não exigirá o melhor nível de nenhum dos supercraques, não como se exige na Liga dos Campeões da Europa.

Neymar fará falta à seleção brasileira.

Neymar com o uniforme do Al-Hilal - AFP

Pode ser convocado, até tem chance de seguir em competições importantes.

A experiência com Renato Augusto —que Tite admira, reconhece o talento e, mesmo assim, desistiu de convocá-lo por ele não conseguir atuar em alto nível quando foi para a China— indica que Neymar terá dificuldades para ser o líder da transição.

Todas as crises da seleção brasileira aconteceram nas passagens de bastão, saída de uma geração para a entrada de outra, sem que uma referência esperasse outra consolidar-se.

Foi mais fácil para Tostão jogar com Pelé e Garrincha em 1966 antes de ser o titular indiscutível em 1970. Mais simples para Ronaldo ser o herdeiro de Romário tendo jogado com ele. Neymar recebeu a herança de dois gênios desistentes.

Tostão e Alcindo com a seleção brasileira em 1966 - Acervo UH/Folhapress

Ronaldinho Gaúcho e Adriano poderiam ter feito a transição da era Ronaldo para a de Neymar. Não chegaram nem sequer à Copa da África do Sul, em 2010. A passagem também poderia ter sido feita por Kaká. Mas convivia com lesão grave.

Vinicius Junior e Rodrygo podem ser os novos pontos de esperança para o Brasil voltar a ser campeão mundial. Seria bom se Neymar tivesse a seriedade dos líderes para ajudar na montagem de uma equipe como seu ponto de referência.

Vinicius Junior e Rodrygo comemoram gol do Real Madrid contra o Manchester City, em maio - Javier Soriano - 9.mai.23/AFP

Há contraponto nesse pensamento. A seleção não ganhou nada nos últimos dez anos, exceto a Copa América de 2019, quando Neymar estava lesionado e ficou ausente. Se não fez falta daquela vez, por que fará na transição?

O pacote do craque revelado pelo Santos é tão pesado que o Paris Saint-Germain desistiu de mantê-lo pelos quatro anos de contrato, aceitou vendê-lo por € 130 milhões a menos do que pagou e liberá-lo para a Arábia Saudita, rival político do Qatar, país cujo governo é dono do PSG.

Se o clube da França julga melhor não contar com Neymar, talvez seja mesmo melhor para o Brasil não contar com sua colaboração.

Mesmo assim, conceitualmente, é melhor passar a liderança de uma geração a outra com todos os craques juntos.

O problema é que este país se tornou aquele em que os gênios mais cedo desistem. Neymar será lembrado como um grande jogador, que fez menos do que poderia fazer. Não teve a ambição para ter o profissionalismo de Messi e Cristiano Ronaldo nem o atrevimento para se entregar às festas como Ronaldinho Gaúcho.

Guardiola começou seu trabalho no Barcelona avisando que não teria Ronaldinho no elenco porque ele contagiava o ambiente de trabalho. Adriano perdeu espaço na Europa mesmo com os italianos amando seu talento e carisma.

Adriano comemora gol na partida Internazionale 3 X 1 Fiorentina, em 2007 - Paco Serinelli - 21.jan.07/AFP

Neymar nunca teve contestada a sua incrível capacidade com a bola nos pés. E, mesmo assim, o Paris Saint-Germain compreendeu que gerava mais custo do que benefício. Neymar está jovem demais para envelhecer com 31 anos.

Para o Brasil, seria bom tê-lo para passar o bastão a Vinicius. Mais importante é compreender por que os jogadores nascidos aqui desistem quase tão rapidamente quanto ficam ricos.

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