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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Copa do Mundo feminina

As razões para a eliminação do Brasil na Copa do Mundo feminina

Há componentes técnicos, contra as francesas, e emocionais, contra as jamaicanas

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Das várias razões para a eliminação do Brasil da Copa do Mundo feminina, nenhuma é tão simples quanto a compreensão de que a seleção jogou mal.

Simples assim.

Mas por qual razão passou noventa minutos sem ameaçar a Jamaica, depois de ter atuado bem contra o Panamá e sofrido o segundo gol da França quando estava mais perto de vencer do que de perder?

Há componentes técnicos, contra as francesas, e emocionais, contra as jamaicanas.

Adriana lamenta eliminação, enquanto jamaicanas celebram ao fundo - Mao Siqian/Xinhua

Havia 28 anos que o Brasil não caía na fase de grupos –desde 1995. Quando fez sua melhor campanha, em 2007, empatou com a França –a quem jamais venceu–, mas Marta e Cristiane estavam no primeiro mundo do jogo.

As francesas, não.

Foi mais tardia no Brasil do que na Europa a compreensão de que era preciso investir e espalhar o gosto de praticar o esporte a meninas criadas para brincar de casinha. Obrigar clubes grandes a terem departamentos femininos acelerou a difusão, porque torcedoras de Lyon, Paris Saint-Germain, Barcelona, Atlético de Madrid, Bayern, Wolfsburg e Chelsea passaram a admirar jogadoras como a norueguesa Hegerberg, a brasileira Formiga, a espanhola Alexia Putellas, a alemã Popp, a australiana Sam Kerr.

"Quando eu comecei a jogar, eu não tinha referências", disse Marta há dois dias.

O que isso tem a ver com jogar mal contra a Jamaica ou sofrer o gol da França a sete minutos do fim do clássico?

Tudo.

Pela primeira vez, uma geração de jogadoras brasileiras viajou para uma Copa do Mundo sabendo que grande parte do país olhava, torcia, admirava e tinha esperança nelas. De um lado, isto produziu profunda alegria e ansiedade por estar na Austrália.

Por outro, os nervos ficaram à flor da pele por sentirem-se parte da vida de um país de 203 milhões de habitantes, dos quais mais de 100 milhões têm no futebol uma felicidade efêmera.

Pesou.

A CBF precisa pensar por que a maior esperança de ser o novo talento entre as mulheres sul-americanas nasceu na Colômbia, e não no Brasil, caso de Linda Caicedo, primeiro caso de atleta, homem ou mulher, a disputar três Copas do Mundo em dois anos seguidos em categorias distintas. Linda atuou por sua seleção nos Mundiais sub-17 e sub-20 de 2022 e fez gol na Alemanha adulta.

É necessário manter a experiência do Iranduba, que levou o futebol feminino à Amazônia, onde não chega o masculino em alto nível, mas prosseguir a popularização com as grandes camisas, de Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional e mais...

É preciso admitir o estágio em que este velho país do futebol está, com apenas uma semifinal masculina e outra feminina depois da conquista do penta, em 2002. Um país gigantesco, que ama e pratica futebol em 8,5 milhões de quilômetros quadrados, não pode prosseguir nesta situação. Tem de trabalhar para transformá-la.

A derrota não significa que o Brasil tenha uma geração sem talento, nem de derrotas, mas indica a necessidade de difundir mais, espalhar conhecimento, tirar da quantidade de praticantes as futuras campeãs, algumas das quais podem ter fracassado na Austrália. Seguir tentando entender onde está o caminho para voltar a ser o país do futebol e, desta vez, ser dos homens e das mulheres, meninas e meninos.

O Brasil perdeu porque não trabalhou bem o bastante os aspectos técnico, tático e mental de uma geração que percebeu a importância que subitamente recebeu.

A pior campanha em 28 anos escancara que o sucesso ainda está bem distante. Por contraditório que pareça, muito mais perto do que três décadas atrás.

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