Rafael Muñoz

Economista líder para o Brasil do Banco Mundial, já trabalhou para a instituição na Ásia e na África.

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Como o Brasil pode aproveitar o potencial dos registros administrativos e do uso de Big Data

Análise de dados podem ser transformados em fontes de informação valiosas

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As tecnologias digitais levaram a volumes maciços de dados sendo produzidos por governos, empresas e pelo público. Diariamente, toda vez que interagimos com nosso celular ou pagamos uma conta de água, compramos em alguma loja ou simplesmente por ter um trabalho, geramos informações digitais —essas interações são fontes de registros administrativos e geram ’Big Data’.

Inovações de baixo custo em mineração e análise de dados transformam esses dados em fontes de informação valiosas coletadas em tempo real e de praticamente toda a população. Muitas empresas do setor privado estão prosperando na compilação e análise desses dados e há enormes oportunidades para o setor público também.

Em todo o mundo, essa rica informação digital aumentou as expectativas de insights mais rápidos, melhores e mais detalhados por meio de melhores estatísticas (conhecida como business intelligence).

Análise de dados transformam dados em fontes de informação valiosas - Tao Liang - 26.mai.2018/Xinhua

Países de todo o mundo estão encontrando formas inovadoras de aproveitar esses dados, por exemplo, integrando com as informações mais tradicionais baseadas em pesquisas e censos, para produzir estatísticas de maneira mais rápida, melhores e mais detalhadas, que podem melhorar o desenho e a implementação de políticas públicas.

Nos EUA, por exemplo, a combinação de registros administrativos com informações do censos e pesquisas é usada para estimar quantas crianças vivem na pobreza em cada município e distrito escolar para a focalização de fundos públicos para o programa escolar “Nenhuma criança deixada atrás”. 

O Brasil tem um número crescente de bancos de dados administrativos —as iniciativas GovData e Portal da Transparência (uma referência reconhecida em toda a América Latina) são excelentes exemplos. Mas ainda há um grande potencial para usar essa informação para melhorar e inovar os produtos estatísticos necessários para os tomadores de decisão - no governo, no setor privado e no lar. 

Para construir uma visão compartilhada de informações melhores e mais frequentes no Brasil, o IBGE e o Banco Mundial estão organizando um workshop esta semana em Brasília, que incluirá palestrantes de várias origens da OCDE apresentando como seus países estão enfrentando esses desafios e construindo sistemas que incentivam compartilhamento de dados e inovação.

A ideia é assimilar essas experiências internacionais e usá-las como inspiração para ampliar a forma como se usam esses dados no Brasil.

O Brasil não é um estreante na área. O IBGE, por exemplo, já está complementando suas pesquisas com dados administrativos para atualizar e aprimorar alguns de seus principais produtos de dados.

Por exemplo, o Cadastro Nacional de Empresas, um banco de dados crucial para a coleta de pesquisas do setor privado, está sendo atualizado com informações dos registros administrativos de emprego; as informações da nota fiscal de consumidor são usadas para atualizar as estimativas das taxas de inflação; e o IBGE está testando abordagens de raspagem da web (“web scraping”) para produzir informações mais frequentes e detalhadas sobre preços e produtos.

Essas novas fontes de dados utilizadas pelo IBGE têm o potencial de não apenas diminuir custos reduzindo a dependência de pesquisas, mas também de fornecer informações mais abrangentes e atualizadas de diferentes segmentos da economia.

Para poder usar essas novas fontes de dados, as experiências internacionais sugerem que se requer uma maior colaboração e coordenação entre o sistema estatístico do país (como o IBGE e o Banco Central) e os principais produtores de dados administrativos e de Big Data (nos setores público e privado).

Internacionalmente, as agências nacionais de estatística (como o IBGE), com sua equipe qualificada em estatística e ciência de dados e suas funções como guardiões de alguns dos ativos de dados mais importantes do país, têm desempenhado um papel fundamental nesses novos produtos. 

Para avançar nessa agenda, há desafios tanto técnicos como institucionais, e decisões difíceis a serem tomadas. Mas as experiências internacionais mostram que há soluções. Por exemplo, para proteger a confidencialidade, se requer boas políticas e práticas institucionais de uso e compartilhamento de dados: em alguns países os dados são anonimizados com uma identificação-chave, que permite vincular distintas bases de informação sem incluir identificadores como o CPF.

Outro desafio é incentivar as instituições a compartilhar seus dados, pois eles têm valor —não só monetário, mas também político. Para isso, é preciso ter uma agenda estratégica de dados compartilhados, que priorizaria as áreas de maior necessidade para o país.

O Brasil tem algumas vantagens importantes: o capital humano e a expertise de seu sistema estatístico e acadêmico, os excelentes dados trazidos através de suas várias iniciativas digitais e de governo, que o posiciona para superar os desafios técnicos e institucionais que surgem com o uso expandido de dados, incluindo proteção de confidencialidade e garantia de qualidade dos bancos de dados e produtos estatísticos.

O próximo passo é reunir essas peças por meio de engajamento e colaboração ativa entre o governo, o setor privado, os pesquisadores e o público —para entender o panorama atual, diagnosticar as lacunas de dados, identificar as barreiras (como proteção de confidencialidade e sigilos) e suas soluções, e liderar iniciativas para inovar.

As experiências internacionais reunidas neste workshop trazem ao Brasil alguns exemplos de como outros países desenvolveram mecanismos de coordenação eficazes para garantir melhorias em todo o sistema, a fim de garantir que as estatísticas oficiais permaneçam relevantes nos próximos anos.

Esta coluna foi escrita em colaboração com Liliana Sousa, economista sênior do Banco Mundial. 

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