Ranier Bragon

Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.

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Ranier Bragon

Políticos se calam sobre os kits de robótica com ágio de 420%

Lira e Bolsonaro mostram que sua obrigação de prestar contas não é levada a sério

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Brasília

Dia desses, a Folha quis saber dos principais pré-candidatos a comandar esse país o que eles pensam do semipresidencialismo em debate na Câmara.

A assessoria de Jair Bolsonaro (PL), como de praxe, ignorou a pergunta. A de Lula juntou preguiça com desprezo pela inteligência alheia e disse que o petista ainda não é candidato, logo, não falaria.

A charge tem como título “Movido a Centrão” e mostra um micro-ônibus de cor amarela, em cuja lateral há uma faixa preta onde se lê em letras maíusculas em branco a frase ”Descolar uma grana”. Ao volante aparece o presidente Jair Bolsonaro, que diz: Energia verde!. Nas janelas do micro-ônibus estão o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o chefe da Casa Civil e deputado Ciro Nogueira e o ex-deputado Valdemar Costa Nato. Todos os três seguram uma cédula de 100 reais, em cor verde. Valdemar Costa Nato comenta com a seguinte frase: Renovável a cada quatro anos!.
Charge publicada no Painel em 7 de abril de 2022 - Cláudio

Parece uma besteira, mas há aí o sintoma de um mal maior, a certeza de que eu, político responsável pela gestão de milhões ou bilhões em recursos públicos, ou candidato a isso, só me manifestarei sobre aquilo que eu quiser, do jeito que eu achar mais conveniente, no momento em que julgar adequado, no ambiente controlado que escolher —e se, por ventura, estiver disposto a tal.

Escolas públicas de Alagoas visitadas pelo repórter Paulo Saldaña sofrem com falta de sala de aula, internet, computadores e até água encanada. Para lá o governo federal enviou não a infraestrutura que deveria ter providenciado há décadas, mas kits de robótica ao valor unitário de R$ 14 mil.

Empresa de um aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), intermediou o negócio e comprou pelo menos parte desses kits por R$ 2.700 cada um. Ou seja, revendeu os kits às prefeituras com um ágio de 420%.

Todo mundo sabe como revolta ser alvo de injusta suspeita. Dá vontade de sair às ruas gritando e farfalhando documentos para provar o acerto do gasto feito, a justeza de se cobrar o valor cobrado e a melhoria que tudo isso trouxe à precária realidade dessas escolas.

Dá muita vontade. Ou deveria dar. A empresa e o MEC preferiram a mudez. Lira e Bolsonaro se limitam a dizer que não têm nada a ver com isso apesar de, sim, ambos terem a ver com isso.

Não há razão que justifique políticos encastelados e a salvo do contraditório em uma República de cem anos e lá vai pedrada. É dever elementar dar explicações públicas rotineiras de mandos e eventuais desmandos. Por que se calam?

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