Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Enzo Celulari se torna empreendedor social, sua forma de arte

Filho de Cláudia Raia e Edson Celulari fundou instituto para apoiar causas sociais e arrecadou R$ 1,2 milhões em doações na pandemia

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Aluno do último semestre de administração, Enzo Celulari leva uma vida de executivo. Administra com dois sócios o Instituto Dadivar e três negócios para atuar em causas e projetos de impacto social.

Primogênito de Cláudia Raia e Edson Celulari, o empreendedor social de 23 anos trilha um caminho próprio, ao largo da carreira nos palcos e na tevê dos pais famosos. “Havia uma pressão natural para seguir os passos deles, mas empreender é uma forma de arte.”

Com 1 milhão de seguidores no Instagram, a veia artística aparece em vídeos caseiros, como o que gravou tocando violão e cantando "A Paz", sucesso de Gilberto Gil.

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A música chegou a ser cogitada como caminho profissional. Ao final do ensino médio em uma escola britânica no Rio, uma das opções era se aperfeiçoar em instrumentos como violão e bateria numa conceituada faculdade no exterior.

Tocar, cantar e compor viraram hobbies. “Eu toco e componho, mas desisti de ir pra fora. Tinha muito a ser resolvido no Brasil. Eu senti que precisava empreender aqui.”

Angústias de uma geração que busca propósito em suas escolhas profissionais. Há cinco anos, Enzo se mudou com a mãe e a irmã para São Paulo, quando decidiu cursar administração de empresas na Faap.

Um ano depois, ele fundava o Instituto Dadivar, derivação da palavra dádiva, que virou verbo para nomear a organização sem fins lucrativos com olhar estratégico para levantar recursos para ONGs e causas.

No anos seguintes, juntou-se ao advogado Danilo Tiisel, 40, especialista em terceiro setor, e ao publicitário Marcelo Jambeiro para montar uma holding social, que agrega duas consultorias e uma agência focada em comunicação de causas socioambientais.

“Criamos uma rede de confiança tanto entre pessoas físicas quanto jurídicas que buscam apoiar uma causa, mas ficam com pé atrás por não saber para onde vão os recursos”, explica Enzo.

“Do outro lado, temos artistas com poder grande de influenciar causas, mas também com receio de atrelar suas imagens tão bem construídas a algo que não seja sério.”

Artistas consagrados são clientes ou parceiros do primogênito do ex-casal de atores, pais também de Sofia, 17. “Construí uma rede de mobilização naturalmente pelo meus pais, mas também pelo que faço e acredito”, diz Enzo.

Brilha no portfólio do Instituto Dadivar uma constelação de grandes nomes da tevê e da música.

A cantora Anitta, o comediante Paulo Gustavo e a atriz Fernanda Souza, por exemplo, foram protagonistas de campanhas para apoiar ONGs. “Os crowdfundings apadrinhados por artistas conseguem mobilizar o público deles contribuindo com causas importantes”, explica Enzo.

Para engajar os fãs a fazer doações, o embaixador famoso oferece sorteios de experiências, como assistir da primeira fila uma peça de Paulo Gustavo, com direito a foto no camarim.

Ações com as quais o Dadivar arrecadou doações em torno de R$ 70 mil para hospitais e entidades filantrópicas.

O passo seguinte de Enzo no terceiro setor foi ampliar o foco de atuação. “Nosso potencial ia além de arrecadar quantias, mas também mobilizar e mudar a cabeça das pessoas.”

E assim se constituíram as consultorias e a agência. “O instituto tem participação societária nas empresas e gera impacto na ponta em tudo o que a gente faz, formando um grupo que nos remunera e dá base para o que acreditamos.”

A Social Profit, por exemplo, foi contratada para estruturar um plano de investimento para o Greenpeace Brasil.

Modelo de atuação acelerado durante a pandemia com campanhas de emergência, como o movimento Ao Vivo pela Vida, em parceria com a agência Suba.

Iniciativas como um festival online de lives, com programação de três dias e shows no YouTube, já arrecadaram R$ 1,2 milhâo doados para o Fundo Emergencial da Saúde e para Ação da Cidadania.

“Conseguimos reunir 30 artistas muito bacanas logo na primeira etapa do movimento voltado para o fortalecimento do SUS e o combate à fome”, relata Enzo. Dos apresentadores Luciano Huck e Angélica a Anitta, que fez show gospel.

O movimento conta também com um bazar de roupas femininas com peças cedidas por famosas, como Mariana Ximenes, Sabrina Sato e Bruna Marquezini, apontada como novo affair do solteiro Enzo.

A renda do bazar foi convertida em 20 toneladas de alimentos, muma campanha ainda ativa na página do @aovivopelavida no Instagram.

“A necessidade de recursos só aumenta na pandemia. Tanto no combate à fome como na saúde, onde estamos sem ministro há tantas semanas e ultrapassamos 100 mil mortes”, afirma Enzo. “É impossível fugir do assistencialismo nesse momento."

Ele usa a frase célebre do sociólogo Betinho, "Quem tem fome tem pressa" para concluir: "Não podemos dizer para uma criança faminta que voltamos dalí a três meses com escola”.

Enzo espera que o cenário pós-pandemia não seja de retrocesso na cultura de doação e no engajamento de todos os setores para transformações estruturais. "O terceiro setor e a área social não devem ser vistos como algo em separado."

Causas sociais e ambientais precisam entrar em definitivo na pauta do cidadão e da empresas, aposta Enzo. “Elas devem estar em tudo o que a gente compra e vende.”

Ele cita o exemplo da campanha do Dias dos Namorados criada pela agência do grupo para a grife Ricardo Almeida, com 5% das vendas revertidas para o Instituto Fazendo História. “É uma forma de levar propósito para perto do cliente e fortalecer a relação das marcas com seus públicos por meio de causas sociais”.

Para Cláudia Raia foi natural ver primogênito trilhar esse caminho. “Enzo sempre teve preocupação com o próximo desde criança." A atriz relata ter estimuado a cultura de doação em casa, quando os filhos doavam mensalmente brinquedos e roupas para instituições. "É algo que se aprende e é bonito de ver isso nele."

O pai também não se supreendeu com o engajamento do filho. "As novas gerações encaram as diferenças e as injustiças de uma forma mais próxima. Tenho orgulho de ver o Enzo trabalhando para uma sociedade mais equilibrada."

Os dois apontam esse dado geracional de os filhos estarem mais conectados com o coletivo. "Durante a pandemia, Enzo sabia da necessidade de ajudar e pesquisou em quais frentes poderia atuar de maneira mais efetiva”, diz a mãe.

Claudia Raia e Edson Celulari também se engajaram no movimento criado pelo filho. “Meus pais me apoiam e entendem a necessidade de levantar bandeiras genuínas”, diz o empreendedor social.

É assim que ele se apresenta tanto no perfil do Instagram quanto no cartão de visitas desde os 19 anos. Em home office durante a pandemia, Enzo passa uma temporada no Rio com pai. Só deve voltar a São Paulo em setembro.

“Dentro de casa, sempre tivemos apoio para correr atrás do que nos faz feliz. Aprendi com meus pais que trabalho não deveria ser visto como obrigação, mas algo que dá prazer e nos alimenta.”​

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