Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça

Pandemia escancara desigualdade também no esporte

Covid-19 jogou luz para uma situação que sempre aceitamos naturalmente

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No início da pandemia de coronavírus, dentre tantas previsões que tentavam projetar os efeitos da doença no Brasil, uma delas já era certa: a Covid-19 escancararia o peso de convivermos tão naturalmente com a desigualdade.

Foi exatamente o que aconteceu no país, que já registrou 80 mil mortos, com taxa de mortalidade bem maior para negros e pobres. Talvez isso explique por que estamos aceitando tão facilmente a média de mil mortes diárias nesse que virou o “novo normal” no Brasil.

Assim como a pandemia escancarou essa desigualdade na sociedade, ela também jogou luz para uma situação que sempre “aceitamos” naturalmente: a desigualdade de gênero no esporte. A começar pelo que acontece na WNBA e na NBA, as ligas de basquete feminino e masculino dos EUA.

Ambas foram se resguardar na Flórida, numa “bolha” onde serão realizados os jogos limitando o contato aos times participantes. A “bolha” dos homens tem alimentação personalizada, quartos luxuosos, diversas opções de lazer e toda forma de cuidados, enquanto a das mulheres tinha refeições de péssima qualidade, quartos e várias áreas compartilhadas e uma estrutura bem inferior.

Além disso, a liga negou o pedido médico de Elena Delle Donne, a MVP da última temporada, para que fosse liberada dos jogos. Ela tem doença de Lyme e pertence ao grupo de risco nessa pandemia. Sem a liberação, poderia perder o salário caso não jogasse. A sorte foi que sua equipe, o Washington Mystics, atual campeão, garantiu os pagamentos para que ela não precise se arriscar. Será que veríamos algo assim acontecer com um atleta de ponta da NBA, como LeBron James?

No Brasil, no último fim de semana, teve início a “Missão Europa” patrocinada pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil). Uma foto muito simbólica foi divulgada pela CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). Nela, a delegação pronta para a viagem contava com 14 atletas da natação masculina e apenas uma da natação feminina.

A explicação? As mulheres não atingiram os índices estipulados em 2019. Mas para conseguir os índices não seria necessário treinar? Qual estrutura elas tinham de treino? Agora será ainda mais difícil, porque a CBDA fez questão de não levá-las para a melhor oportunidade que teriam para cair na piscina.

Atletas brasileiros da "Missão Europa" embarcam para treinamento na Europa
A cara da "Missão Europa" do esporte brasileiro - Mônica Faria - 17.jul.20/COB

No futebol, a CBF estipulou datas para o retorno dos campeonatos masculino e feminino. O delas (primeira divisão) retorna no dia 26 de agosto, mas ainda não se sabe como.

O controle de testes será feito por meio de parceria da entidade com o hospital Albert Einstein. Mas como a confederação irá garantir um protocolo mínimo de segurança no futebol feminino? Há clubes que mal têm campo para treinar, que dirá estrutura para manter o distanciamento e o controle de saúde de atletas e funcionários. Em estádios que não têm nem vestiários direito, como garantir que as atletas não estarão em risco?

“Estamos passando aos clubes toda a estrutura que precisam ter. Eles vão ter que cumprir o protocolo. É obrigatório. Vão ter que se adaptar. Tem que ser seguido para garantir integridade física das atletas”, disse o presidente da comissão médica da CBF, Jorge Pagura.

O protocolo até pode ser igual para homens e mulheres no futebol, mas as condições em que ele será aplicado são muito diferentes. Assim como na sociedade a prevenção mais simples (lavar as mãos) se torna complexa se considerado um contexto em que 31 milhões de brasileiros não têm acesso a água encanada, no futebol o protocolo rígido é o mínimo. É necessário, porém, entender na prática se há condições para o seu cumprimento.

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