Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renata Mendonça

Brasileiro mostra que muita gente queria ver futebol feminino, só faltava a oportunidade

CBF recebeu número recorde de pedidos de credenciamento para um jogo do torneio: 224

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Eu “descobri” o futebol feminino em 2015. Não que eu não tivesse visto nenhum jogo de mulheres antes, mas como isso acontecia de quatro em quatro anos (nos Jogos Olímpicos), a impressão que ficava era a de que era só isso e mais nada. Não sabia dos campeonatos, não sabia sobre as jogadoras, ouvia falar bem pouco de Marta e Cristiane e só.

O Museu do Futebol criou uma exposição naquele ano chamada “Visibilidade para o Futebol Feminino”. Fui na inauguração para cobrir o evento pela BBC Brasil e ali descobri que o próprio Museu do Futebol, inaugurado no Pacaembu em 2008, não tinha nada sobre futebol feminino até aquele momento (2015). Foram sete anos sem que ninguém notasse que faltava algo naquela história.

Foi também naquela ocasião que descobri que o futebol havia sido proibido para mulheres por 40 anos no Brasil. E soube também que haveria uma Copa do Mundo feminina em um mês e eu não tinha lido nada sobre ela. Era como se o futebol das mulheres fosse invisível até então. E, na verdade, era mesmo - e não por acaso, pois queriam que fosse.

Não contar uma história é o mesmo que fingir que ela não existe. Lembro uma conversa que tivemos quando decidíamos naquela época os rumos do podcast das Dibradoras, criado para a Copa do Mundo de 2015. Pensamos em seguir falando semanalmente de futebol feminino até que nos demos conta: Como?

O site da CBF não era atualizado no dia dos jogos do Brasileiro Feminino, criado dois anos antes. Nos grandes veículos, nem uma linha sobre as partidas que, aliás, aconteciam em horários peculiares: 15h de um dia útil. Como a gente conseguiria saber o que estava acontecendo?

A desculpa que davam era sempre a mesma. “Ninguém quer ver futebol feminino”. Seis anos depois, tivemos a Copa do Mundo feminina mais vista da história (2019), com o Brasil batendo recorde mundial de espectadores, o Campeonato Brasileiro Feminino mais assistido de todos os tempos e a final mais comentada da última década.

A Band conseguiu alcançar com o dérbi decisivo um pico de audiência que não registrava desde 2017. O SporTV liderou com folga na TV paga (dados de Gabriel Vaquer, do Notícias da TV). A CBF recebeu um número recorde de pedidos de credenciamento para o jogo: 224. Foi exatamente o dobro de pedidos recebidos para Corinthians x Palmeiras do Brasileiro masculino no dia anterior. Foi um número muito parecido ao que costuma acontecer em finais masculinas de Copa do Brasil, por exemplo.

Mudem a frase “ninguém quer ver futebol feminino” para “ninguém tinha tido a oportunidade de ver”. As pessoas não têm como se interessar por algo que elas não sabem que existe. Eu mesma, até 2015, não sabia nada sobre o futebol das mulheres. Muita gente teve essa descoberta em 2019, quando pela primeira vez a Copa do Mundo delas foi transmitida na Globo.

Tem mais gente ainda descobrindo agora, com a oportunidade de ver e ouvir na TV aberta, na TV fechada, no rádio, nas redes sociais, um dérbi envolvendo duas das maiores torcidas do Brasil decidindo o título do Brasileiro Feminino. Um jogaço, com belíssimos gols e um altíssimo nível de futebol.

Esses números, esses recordes, não servem para provar um ponto. Servem para construir uma ponte. Uma ponte que vai finalmente conectar as meninas que gostam de futebol, que sempre quiseram jogar bola e nunca se viram como protagonistas do jogo. E quando ouvirem que “futebol não é coisa de menina”, que é para elas brincarem de boneca, terão a resposta na ponta da língua - ou no botão do controle remoto. Basta ligar a TV que elas vão se ver lá.

Respeite quem pôde chegar aonde o futebol feminino chegou.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.