Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Treinadores reproduzem clichês e desperdiçam chance de debate aprofundado

Entrevistas coletivas poderiam ser melhores com maior respeito de jornalistas e técnicos

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Quem tudo quer, nada tem. Para meio entendedor, meia palavra basta. Esses ditados populares viraram bons recursos na boca dos técnicos finalistas da Libertadores de 2021.

A primeira frase é de Renato Gaúcho para explicar a queda de desempenho do Flamengo, que disputa a reta final de três competições.

A segunda é uma adaptação do original "para um bom entendedor, meia palavra basta" e foi dita por Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, quando questionado no início do mês sobre o que o estava incomodando com relação às críticas recebidas ao seu trabalho.

Em tempos de pandemia, as coletivas de imprensa após os jogos não são mais presenciais, mas não deixam de evidenciar a troca de farpas entre jornalistas e treinadores. Sempre sobra um ataque ou outro dos técnicos, que em geral se veem como "injustiçados".

Abel Ferreira tem se mostrado incomodado com a imprensa - Carla Carniel - 3.out.21/Reuters

O próprio Abel Ferreira chegou a se solidarizar com seu companheiro de profissão alguns dias atrás.

"Eu não queria terminar essa entrevista sem mandar um abraço ao meu amigo Renato Gaúcho. Quando ele for falar os nomes dos jornalistas, me ligue para que eu dê mais quatro nomes, porque temos que fazer jornalismo sério e verdadeiro. Seja para criticar, mas dizer a verdade", pontuou.

Talvez os técnicos enxerguem as coletivas como a chance deles para rebater as tantas críticas que recebem diariamente nos programas de debate, nas matérias dos sites e jornais, nos comentários das transmissões. Dá para entender o nível de estresse que deve ser participar de uma entrevista coletiva após um jogo (especialmente após uma derrota) em que você é o alvo enquanto os outros em volta apontam as flechas.

É como se existisse um cenário de "nós contra eles" e isso faz muito mal à relação imprensa/treinador.

E, olha, não estou aqui para defender jornalistas e atacar treinadores. Nem para fazer o contrário. Mas fico me perguntando quanto não poderíamos evoluir se essa relação fosse diferente –principalmente nas coletivas.

Essa troca entre jornalistas e treinadores tem muito a contribuir para o jogo. Só que, de um lado, nós da imprensa às vezes fazemos um debate superficial e simplificamos demais o que é complexo, avaliando técnicos e trabalhos tão somente por resultados. Vence e é o melhor técnico do Brasil em atividade. Perde e não é mais tão bom.

Do outro, os treinadores vão às coletivas dispostos a contra-atacar, estabelecendo uma disputa que não existe. Renato, por exemplo, já disse que não fala de tática com jornalistas porque entende que esse é um tipo de conversa para ter apenas com seus jogadores. "Comentarista tem que falar de parte tática, e treinador tem que falar disso com o grupo".

Renato Gaúcho evita discutir questões táticas - Alexandre Loureiro - 23.out.21/Reuters

Para mim, ele não poderia estar mais equivocado. Se a gente (e entendo que jornalistas e treinadores têm esse desejo em comum) quer ver a evolução do jogo no Brasil, precisamos de debates cada vez mais aprofundados. E só vamos ter isso quando houver essa troca com os técnicos.

Ninguém está dizendo para eles revelarem suas estratégias de jogo, mas para explicarem, por exemplo, o que pensaram quando fizeram a alteração x ou o que queriam com uma escalação y, ou ainda se entendem que a estratégia z funcionou.

Abel Ferreira já deu entrevistas excelentes falando de tática nos programas esportivos de que participou após o título da Libertadores, mas ultimamente tem ficado mais reticente com a imprensa.

E reforço: há, sim, muito que melhorar do nosso lado, da forma de perguntar, do esforço para entender o jogo e respeitar o trabalho dos treinadores. Para usar um ditado popular, é uma via de mão dupla. Dava para ser muito melhor.

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