Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Técnicos mostram que professor às vezes também precisa aprender

Verdades escancaradas e mentiras esfarrapadas demonstram que humildade é algo necessário

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Em semana de jogos quentes na Libertadores e no Campeonato Brasileiro, as entrevistas de alguns dos principais treinadores do futebol brasileiro ganharam mais holofotes.

Começou com o embate Abel Ferreira x Cuca na partida que definiu nos pênaltis um semifinalista do torneio continental. O técnico do Atlético-MG disse que, "às vezes, você tem um jogador a mais e isso passa a não ser a vantagem", ao comentar sobre a dificuldade de infiltração na retranca montada pelo Palmeiras após a expulsão de Danilo ainda no primeiro tempo.

Já o comandante português apontou caminhos que o Galo poderia ter explorado: "Ele tinha os pontas por fora, os dois laterais abertos, os zagueiros por trás, mas poucos jogadores por dentro do nosso bloco. Isso, para nós, foi mais fácil de controlar".

Não é comum por aqui vermos um técnico apontar o que o outro poderia ter feito para vencê-lo. Ainda assim, não vejo problema nenhum em dizê-lo, como foi o caso de Abel Ferreira.

Cuca fez uma análise rasa sobre o Palmeiras - Nelson Almeida - 10.ago.22/AFP

Cuca voltou ao assunto no último domingo, após vencer o Coritiba com gol nos acréscimos.

"O Palmeiras é um time reativo. Meu time não conseguiria fazer isso porque não é reativo, é proativo. Propõe o jogo, o que geralmente o Palmeiras não faz. Eles têm a bola longa, a marcação individualizada e jogam no erro do adversário após a roubada de bola."

Um time reativo, como descreveu o treinador do Galo, costuma ser definido, entre outras coisas, como um time que abre mão da bola e deixa o adversário controlá-la na maior parte das vezes, apostando em contra-ataques rápidos quando recupera a posse para agredir o adversário.

Eu até concordaria com essa descrição sobre o Palmeiras de Abel Ferreira se ela tivesse acontecido em 2020 ou mesmo até meados de 2021. O time que inclusive conquistou a Libertadores diante do Santos, treinado por Cuca, realmente naquele primeiro momento não rendia tanto quando precisava ter a bola nos pés por mais tempo.

Mas o Palmeiras de hoje, após 22 meses de Abel no comando, é bem diferente. Para pegar números: o Palmeiras terminou com mais posse do que o adversário em 15 das 22 rodadas do Campeonato Brasileiro (ou seja, 68%). E terminou o jogo com mais finalizações do que o adversário em 16 oportunidades (72% dos jogos).

Esse Palmeiras já teve mais posse que o São Paulo, menos posse que o Botafogo e o Atlético-GO, mesma posse que o Atlético-MG (então comandado por Turco Mohammed), e varia as estratégias adotadas conforme o adversário. Resumir um time que já apresentou tantas variações táticas desde a chegada de Abel Ferreira como "reativo" é uma análise tão rasa quanto imprecisa.

E houve também quem trouxesse verdades demais a uma coletiva. O técnico do Corinthians, Vítor Pereira, não gostou da pergunta sobre "emprego ameaçado" após a derrota no dérbi. Até aí, eu, particularmente, também não gosto desse tipo de pergunta porque acredito que ela só contribui para aumentar a instabilidade dos técnicos no futebol brasileiro, como se a demissão fosse sempre a única solução para um time melhorar seu desempenho.

Mas fica difícil defender a resposta arrogante, soberba e desconectada da realidade do treinador corintiano.

"Você deve estar a brincar comigo com essa pergunta. Eu, nesta fase da minha vida, da minha carreira, ter medo de perder emprego? Sabe quanto dinheiro eu tenho no banco, amigo? Eu tenho a vida estabilizada."

Vítor Pereira deu resposta arrogante e soberba - Miguel Schincarioal - 2.ago.22/AFP

Alguns técnicos com verdades escancaradas demais, outros com mentiras esfarrapadas por trás, e a lição que fica é aquela básica: professor também precisa ter humildade para aprender.

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