Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça

Nunca mais uma Copa como antes

Nossas vozes também fizeram parte da história desse Mundial

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A Copa do Mundo do Qatar se encaminhava para o fim como as últimas oito, na voz de Galvão Bueno. Mas, de diferente, a imagem já mostrava algo que não era comum nos últimos 50 anos de transmissões dos Mundiais na TV Globo. A presença de uma mulher ao lado do maior narrador de todos os tempos era mais do que simbólica.

"Quero dar parabéns a você pela sua presença, volto a dizer, abrindo portas", disse Galvão, olhando para Ana Thaís Matos, a primeira mulher a comentar uma Copa do Mundo masculina na TV aberta. "Você representa uma vitória das mulheres em um trabalho que foi sempre muito dos homens. Muito bom tê-la aqui".

"Agradeço em nome de todas as mulheres desta equipe, desta empresa, as mulheres que se sentem felizes e representadas de alguma forma", respondeu Ana.

Galvão se emociona, ao lado de Ana Thais Matos, durante sua despedida da Copa do Mundo - Reprodução/TV Globo

Hoje é um novo dia de um novo tempo que começou. A vinheta de fim de ano da Globo nunca foi tão certeira. Porque, ao final desta Copa do Mundo, que teve a participação de mulheres como protagonistas nas transmissões das TV aberta e fechada, temos a certeza de que o futuro é promissor. Nunca mais uma Copa como antes. Nunca mais uma Copa sem mulheres.

É representativo que a Copa que teve a maior participação de mulheres como protagonistas na cobertura tenha sido essa, do Qatar, um país que restringe os direitos das mulheres e a participação delas em cargos importantes. Ainda somos poucas, mas somos. Nossas vozes também fizeram parte da história desse Mundial. O tom é diferente, a gente sabe. Tem muita gente que estranha. Não é mesmo comum ouvir uma mulher narrar ou comentar futebol. Não era. Daqui para a frente, vai ser.

E, para crianças que tiveram nessa Copa seu primeiro contato mais próximo com futebol, a história já será outra. Estranho para elas será ouvir seus pais contando que, no passado, só havia homens nas transmissões dos jogos. "Por quê?" E ninguém sabe explicar direito. Só que a gente se acostumou com a ideia de que esporte era território deles. Nossa ausência nem sequer era notada. Agora, a presença vira notícia. Mas chegará o dia que vai ser apenas normal.

Peço licença aqui para fazer um relato pessoal. Os últimos 30 dias foram intensos. Trabalhei nas Copas de 2014 e 2018 como produtora e repórter, mas esta foi minha primeira como comentarista. Com a responsabilidade de contar a história de cada jogo, trazer as nuances do campo e um pouco do contexto de cada seleção fora dele. E com o peso de não poder escorregar. Como mulher, eu não tenho margem de erro. Um deslize nosso vira combustível dos preconceituosos: "tá vendo, mulher não entende nada de futebol". Foram 14 jogos ao todo e 16 seleções. Muitas horas de estudo, de preparo, e o medo de não dar conta. Mas, ainda bem, não precisei caminhar sozinha nessa jornada.

E, nos dias difíceis, podia recorrer a elas. Ana Thaís Matos, Renata Silveira, Natália Lara, minhas companheiras de trabalho, de luta, de tantas transmissões… Missão cumprida, minhas amigas! Nossas vozes ecoaram para o mundo: chegamos, não vamos recuar. E não vamos parar de lutar até que esse seja um ambiente verdadeiramente diverso.

Não vou citar uma por uma desta cobertura porque, ainda bem, somos mais do que cabem nessas linhas. E somos juntas. Que orgulho do que estamos construindo!

Aproveito o momento para também me despedir deste espaço e de vocês, leitores, que me acompanharam por aqui nos últimos três anos e meio. O aprendizado foi enorme, e foi muito bom poder compartilhar aqui histórias, ideias e reflexões sobre futebol e o que vai além dele. Aos que quiserem ainda me acompanhar, sigo meu trabalho no Grupo Globo e com as Dibradoras. O ano de 2023 também promete com uma Copa do Mundo feminina histórica que está por vir. Nos vemos por aí!

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