Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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Renato Terra
Descrição de chapéu Rita Lee

Big Bang Rita Lee

Uma explosão contida num verso

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"Um belo dia resolvi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer."

No fundo, um rock tão cru quanto atômico, explode.

O ano era 1975.

Na junção de letra, arranjo e melodia com a voz de Rita nesse verso ocorre um big bang.

Esse novo universo que se anuncia é cantado por uma mulher.

Rita gostava de rock pesado num tempo em os roqueiros eram saudados por seus colhões.

Rita já gostava de esculhambar com inteligência e humor o mundo em que homens cantavam de smoking e as mulheres de vestidos comportados. Vestiu-se de noiva, pintou um coração na bochecha, colocou uma coroa de Rainha. Em 1975, no compasso de David Bowie, criou sua própria maneira de se vestir.

Ilustração de Débora Gonzales para a coluna de Renato Terra de 10 de maio de 2023
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra de 10 de maio de 2023 - Débora Gonzales

Rita cantou a mudança e o fim da caretice nos anos mais duros da ditadura.

Fez tudo o que queria fazer.

Era a liberdade ampla, geral e irrestrita. Liberdade individual, coletiva, sexual, comportamental, universal.

Em tudo o que ela fazia, havia um porquê.

Um belo dia, Rita resolveu mudar o mundo.

Foi andando sem pensar em voltar. Foi Ovelha Negra. Luz del Fuego. Rainha do seu tanque. Pagu indignada no palanque.

Foi meio Leila Diniz. Cigana. Cansou de escutar opiniões. Não quis luxo nem lixo. Gostou às pampa das Mina de Sampa (ainda não havia para mim Rita Lee a tua mais completa tradução).

Lançou perfume. Uma nova explosão. Uniu rock e carnaval. Uau. Apitos, confetes, guitarras. Um desbunde. E revolucionou de vez com:
Vê se me dá o prazer
De ter prazer comigo
Me aqueça
Me vira de ponta cabeça
Me faz de gato e sapato
E me deixa de quatro no ato
Me enche de amor, de amor

O Brasil cantou, teve saúde pra gozar no final. Rita fez um monte de gente feliz.

Não há entrevista, show, depoimento ou aparição pública de Rita Lee que não exale inteligência, humor e originalidade.

Rita Lee foi muito mais do que pioneira do rock brasileiro (o que já é um feito e tanto). Rita inaugurou alguma coisa diferente e especial em cada um de nós. Suas letras e músicas são chaves que mudaram comportamentos, embalaram vidas e apontaram caminhos de um Brasil que faz fronteira com Shangri-lá.

É comovente a dignidade com que escolheu passar o fim da vida.

Se Deus quiser
Ela acaba voando
Tão banal, assim como um pardal
Meio de contrabando
Desviar do estilingue
Deixar que te xinguem
E tomar banho de sol, banho de sol
Banho de sol, banho de sol

Se Deus quiser, ela vira semente.

E nós aqui continuaremos bailando contigo, amanhã e sempre.

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