A atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels alega ter mantido uma relação de natureza sexual com Donald Trump. O caso é grave porque envolve uma pessoa de reputação muito duvidosa, de um lado, e Stormy Daniels, do outro.

Noutros tempos, um episódio como este talvez envergonhasse o presidente dos Estados Unidos da América. Agora que o presidente é Donald Trump, o caso envergonha a acusadora. Na verdade, ela não acusa: confessa. De acordo com as notícias, Daniels teria recebido 130 mil dólares para não revelar que teria dormido com Trump.

Num mundo justo, ela teria pago o dobro disso para que Trump não revelasse que tinha dormido com ela. Por coragem ou, mais provavelmente, loucura, foi ela quem desvendou o caso. Com que objetivo? Não se sabe ao certo, mas vai falhar.

Trump parece ter sido inoculado com uma vacina contra escândalos. Não há suspeita de indecência escabrosa à qual ele seja vulnerável.

Itamar Franco tremeu só por estar perto de uma moça sem calcinha (era ela que estava sem calcinha, felizmente para todos). Mas Trump transita de escândalo em escândalo como Tarzan de liana em liana. Nenhum homem é uma ilha, diz o poeta, mas Trump é um homem rodeado de escândalos por todos os lados. Não há escândalo que consiga verdadeiramente furar a barreira de escândalos que o rodeia.

Aparece um escândalo novo e a opinião pública boceja: já vimos melhor. Surge uma suspeita inédita e o mundo encolhe os ombros: podia ser mais escandalosa. Estar envolvido num escândalo é grave; estar metido em vários é uma garantia de segurança.

Em "A Bela e o Monstro", Bela envolve-se com o Monstro porque ele tem o pai dela aprisionado na masmorra do castelo. Stormy Daniels não tem essa desculpa. De fato, não tem desculpa nenhuma.

Não é fácil simpatizar com ela, até porque agora insinua que poderá revelar SMS comprometedores e fotografias de Donald Trump nu.

A primeira ameaça é ingênua: que mensagens privadas de Trump poderão ser mais embaraçosas do que os tweets que ele publica voluntariamente? É como se alguém anunciasse que estava na posse de uma música um pouco brega da banda Calypso. Quanto a mostrar ao mundo fotos de Trump nu, creio que há um artigo na Convenção de Genebra que o proíba.