Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Estamos perante uma pandemia de pandemias

Doença da vaca louca ia arrasar o mundo, gripe aviária ia dizimar mais que a peste negra, a gripe suína, ou gripe A, também ficou aquém do esperado

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Como todo mundo, estou preocupado com o coronavírus, a epidemia de gripe, e com o coronavírusvírus, a também incomodativa epidemia de piadas com a cerveja Corona a propósito do coronavírus.

Tenho uma saúde frágil e me acontece muitas vezes, quando assisto a “House”, de contrair a doença estranha abordada no episódio. Começo a sentir os sintomas e fico contagiado até a semana seguinte, altura em que contraio a doença que protagoniza esse episódio.

Ilustração em linhas pretas. Uma pessoa está usando máscara e ouvindo música com fones de ouvido ligados a um celular. No fundo, vários vírus gigantes flutuam.
Luiza Pannunzio/Folhapress

Se se diz que alguém tem piolhos, sinto instantaneamente coceira na cabeça. Portanto, a profusão de notícias sobre uma epidemia que deflagrou a 10 mil quilômetros da minha casa já me faz passar os dias à janela, a ver se assisto à chegada do vírus, altura em que tudo estará perdido.

Há um único aspecto que me tranquiliza. Não seria a primeira vez que uma epidemia da China não passava, afinal, de um negócio da China.

Em 2010, Wolfgang Wodarg, membro do Conselho da Europa, disse que a gripe A tinha sido o “maior escândalo médico do século”. Ele não punha em causa que tivesse havido pandemia. Divisas provenientes de todo o mundo tinham entrado nas contas bancárias das farmacêuticas. O dinheiro, sabemos bem, é contagioso. Sobretudo quando é muito, multiplica-se depressa.

Ou seja, embora de um modo ligeiramente inesperado, tinham-se cumprido as previsões da Organização Mundial de Saúde: era uma pandemia, sim, mas de moedas e notas. E tinham infectado sobretudo os bolsos das farmacêuticas.

Do ponto de vista médico, a gripe A foi uma digna sucessora de outras pandemias que, sendo muito perigosas nos jornais, foram inofensivas, ou quase, na vida real.

Depois da doença da vaca louca, que ia arrasar o mundo transformando os nossos cérebros em esponjas, e da gripe aviária, que ia dizimar mais que a peste negra, a gripe suína, ou gripe A, também ficou aquém do esperado.

São sempre doenças com origem no mundo animal, que conspira para nos matar, provavelmente em resposta aos nossos maus-tratos. E, no entanto, de todas as vezes que a mídia gritou pandemia, a pandemia não veio. Com exceção de uma que, se me permitem, eu identifico agora: depois de quatro pandemias em poucos anos, creio ser seguro afirmar que estamos perante uma pandemia de pandemias. Espero que descubram a vacina.

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