Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira

Quase todas as mulheres que conheço deixaram de usar sutiã na pandemia

Ao que parece, o coronavírus foi o Simão Bolívar dos seios, que desfrutam de nova liberdade

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Eu nutro enorme admiração pelos seios. Cachoeiras fascinam, eclipses deslumbram, auroras boreais maravilham. Não há dúvida. Mas qualquer crítico sério admitirá que os seios são a obra-prima da criação.

“Quando os poetas falam da morte, chamam-lhe ‘o lugar sem seios’”, disse Ramón Gómez de la Serna. Eu não convivi tanto com poetas como de la Serna, mas acredito que seja isso que os poetas dizem e concordo. E por isso mesmo tenho aproveitado o meu tempo neste lugar com seios que é a vida para contemplar, estudar e refletir sobre seios.

As pessoas que menos partilham esta minha paixão costumam ser, curiosamente, proprietárias de seios. O que é misterioso para mim, tenho reparado, é prosaico e desinteressante para as mulheres. Se, junto de amigas, refiro a excelente e informativa “História do Seio”, da professora Marilyn Yalom, elas afastam-se —levando consigo, evidentemente, os seus seios. Conversar sobre seios afugenta seios, constato com mágoa.

No entanto, devo registrar aqui, entusiasmado e agradecido, a única vantagem desta pandemia: as mulheres que me rodeiam têm discorrido longamente sobre o uso de sutiã. Ao que parece, o coronavírus foi o Simão Bolívar dos seios.

Ilustração em linhas pretas sobre fundo branco de uma mão segurando um sutiã com o polegar e o indicador.
Luiza Pannunzio/Folhapress

Quase todas as mulheres que conheço deixaram de usar sutiã durante o confinamento, e trocam impressões umas com as outras, à minha frente, acerca da nova liberdade que descobriram e do conforto de que agora desfrutam. A sensação é tão libertadora que muitas estão decididas a não voltar a usar sutiã, ou pelo menos não voltar a usar com tanta frequência.

Nestas conversas, como é natural, eu não tenho experiências pessoais para relatar, mas estou tão feliz por finalmente participar no debate que cito a professora Yalom, designadamente o capítulo dedicado à história do sutiã —que, é curioso, não tem mais de cem anos, mas já teve várias formas, consoante o padrão de beleza da época, e foi feito de vários materiais, e a primeira patente foi vendida pela sua inventora, uma mulher chamada Mary Phelps Jacobs, por US$ 1.500, embora mais tarde a mesma patente tenha sido avaliada em US$ 15 milhões, quem diria.

E então as minhas amigas vão conversar para outro lado.

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