Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Descrição de chapéu

Olavo entende que para escapar da Polícia Federal a filosofia não é tão eficaz

'Como sabeis, já vendi a minha alma há muitos anos', lembra o guru ao discípulo Fédon

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Fédon: "Como estais, mestre?".

Olavo: "Muito doente, como sabeis, meu bom Fédon".

Fédon: "É verdade que estais a pensar em tomar uma decisão drástica para evitar depor no inquérito que procura apurar a existência de uma milícia digital que tem como objetivo desacreditar a democracia e as instituições?".

Olavo: "É bem certo, Fédon. Fui intimado pela Polícia Federal, mas não tenciono comparecer".

Fédon: "Tenho receio do que podereis fazer, mestre. Ireis beber cicuta, para libertar a alma do corpo?".

Ilustração de uma pessoa vestindo terno preto, camisa branca, gravata branca, calças pretas e tênis pretos correndo em uma esteira elétrica. Ele tem poucos fios de cabelos curtos no topo da cabeça e usa óculos com lentes arredondadas.
Publicada neste sábado, 27 de novembro de 2021 - Luiza Pannunzio

Olavo: "Não. Que ideia. Vira essa boca para lá, Fédon. Vou libertar o corpo do Brasil e a alma vai junto".

Fédon: "Admirável. Como se dará essa extraordinária evasão, mestre? Por meio da filosofia?".

Olavo: "Não. Por meio de um carro que me levará ao Paraguai sem passar pela imigração e depois pegando um avião para Miami. A filosofia, neste caso, não seria tão eficaz".

Fédon: "Ainda assim, denoto nessa atitude a influência do pensamento de filósofos como Descartes, Derrida e Sartre".

Olavo: "Por que esses?".

Fédon: "Porque ireis sair à francesa".

Olavo: "Ah. É verdade. Bem visto, Fédon".

Fédon: "Não estais demasiado doente para fazer uma viagem de carro até ao Paraguai?".

Olavo: "Não. Estou demasiado doente para depor no inquérito. Para fazer viagens de carro de 18 horas estou bom. Não entendeis nada de saúde, Fédon".

Fédon: "Tendes uma doença muito estranha, mestre. São as piores. Estou preocupado".

Olavo: "Não há razão para preocupações, Fédon. Quando eu estiver na minha casa, nos Estados Unidos, poderemos continuar as nossas conversas por videoconferência".

Fédon: "Ainda bem, mestre. Gostaria de aprofundar a sua teoria sobre a imortalidade da alma, que considero muito interessante. Afirmais que as nossas almas já existiam, antes de incarnarem em forma humana, e já eram dotadas de entendimento. É esse, se bem percebi, o conceito de reminiscência. Mas, após a morte do corpo, para onde vai a alma?".

Olavo: "Confesso que não sei, Fédon. Eu digo muitas coisas. Na verdade, no que toca a este tema do corpo e da alma, não posso fazer mais do que especular. O meu corpo funciona cada vez pior —e, como sabeis, já vendi a minha alma há muitos anos".

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