Eu estava a ver, no YouTube, um vídeo de reação a um vídeo de reação a um vídeo em que um gato tomava banho. O gato tolerava a água com paciência, mas ia emitindo um miado que soava à palavra portuguesa "magoou".
No vídeo de reação, duas pessoas maravilhavam-se com o fato de o gato ser capaz de conjugar, no pretérito perfeito, o verbo magoar. No vídeo de reação ao vídeo de reação, uma pessoa, provavelmente leitora de Montaigne, interrogava-se se éramos nós que estávamos a divertir-nos com o gato ou o gato que estava a divertir-se conosco. Na verdade, eu estava a divertir-me com o gato e com as pessoas que estavam a divertir-se com o gato.
Ainda assim, achei que talvez estivesse a perder o meu tempo, uma vez que, na prática, reagia a um vídeo de reação a um vídeo de reação a um vídeo. Por isso resolvi pensar mais um pouco na questão a que tenho dedicado o meu tempo: diz-se ômicron, acentuando claramente o primeiro "o", tornando a palavra esdrúxula e articulando claramente o "n" final, ou omicron, rimando com marrom?
Parece que esta variante é muito mais contagiosa e eu não gostaria de ser infectado por uma doença cujo nome não sei pronunciar. Doente, sim; analfabeto, preferia evitar.
Ao que parece, a Organização Mundial de Saúde saltou algumas letras, para evitar embaraços. De acordo com o alfabeto grego, esta devia ser a variante nu, mas os ingleses pronunciariam new, e pensariam estar a ser infectados por uma doença nova quando, tecnicamente, se trata da mesma.
A letra seguinte seria xi, mas os chineses poderiam melindrar-se com o fato de estarmos a dar o nome do seu presidente a uma doença.
Donde, ômicron. Sucede que eu tenho uma tia chamada Maria do Ômicron. Por acaso não tenho. Mas poderia ter. E a OMS não se preocupou em saber com antecedência se eu teria. Há filhos e enteados, nisto dos melindres.
Além disso, segundo dizem, esta variante é bem menos agressiva do que as outras. O ministério da saúde israelita já pondera a contaminação em massa como estratégia para proteger a população.
Se se confirmar, esta variante pode salvar-nos. Talvez Xi Jinping gostasse de ter o seu nome associado à variante benigna. Agora, porém, é tarde. O presidente chinês pode ficar melindrado de novo. Ou, como diria aquele sábio gato: magoou.
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