Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira

Engenharias alternativas

Acreditar em energias requer um grande dispêndio de energia

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Acreditar em energias requer, segundo estou convencido, um grande dispêndio de energia. Não deve ser fácil. As pessoas que acreditam em energias imaginam que recebem do universo exatamente o mesmo que dão. Se dão bondade, receberão bondade; se oferecerem malvadez, serão pagas em malvadez. O universo é um diligente contabilista, que aponta com rigor, nas colunas de deve e haver, que o sr. Márcio Fagundes, residente em Maceió, Alagoas, praticou hoje três benevolências que lhe devem ser devolvidas em tempo oportuno.

Recordo que o universo é o conjunto do tempo e do espaço, incluindo luas, planetas, estrelas e galáxias, cujo diâmetro observável mede 93 bilhões de anos-luz. É esse mesmo organismo que se ocupa das contas existenciais de todos os habitantes deste pequeno planeta perdido na imensidade cósmica, incluindo as do sr. Márcio Fagundes, residente em Maceió, Alagoas.

No espaço retangular vertical do desenho de Luiza Pannunzio uma mão emana energia para baixo enquanto outra mão recebe e emana para cima. Há um raio amarelo entre elas e partículas triangulares coloridas aleatórias por todo espaço
Ilustração de Luiza Pannunzio para a coluna de Ricardo Araújo Pereira de 21.jan.2023 - Luiza Pannunzio

Os crentes nas energias costumam ter a ambição de controlar os seus fluxos por via das medicinas alternativas.

Tenho tido alguns debates fascinantes com fãs das medicinas alternativas. São pouco sensíveis à argumentação racional. O fato de a ciência ter demonstrado a ineficácia das medicinas alternativas não lhes diz muito, uma vez que também desconfiam da ciência. O meu método tem sido, por isso, evitar o confronto e apostar na concordância extrema. Depois de conceder a superioridade das medicinas alternativas, declaro que vou ainda além e proponho outras áreas do conhecimento alternativas.

Beneficiando da curiosidade do meu interlocutor, avanço com a minha teoria sobre engenharias alternativas. Creio que não haja razão para ficarmos pelas medicinas. As engenharias alternativas também merecem consideração. Consistem no seguinte: prédios feitos de papel. Bem sei que a engenharia tradicional, com o seu ceticismo científico, desconfia da proposta e contrapõe, aborrecidamente, que os edifícios precisam de fundações, vigas e betão. Mas os prédios de papel têm inúmeras vantagens. E requerem apenas pensamento positivo.

As pessoas adquirem um apartamento no prédio de papel e depois devem convencer-se de que pesam somente 150 gramas. É nessa altura que os crentes nas energias me comunicam que, estando eu a emanar cretinice, devo preparar-me para que o universo ma devolva. Mas é óbvio que o universo já estava a presentear-me com ela desde o início da conversa.

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