Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Criança bilionária, Elon Musk não deve brincar com a humanidade

Dono da Tesla tem qualquer coisa de super-vilão da Marvel e de pré-adolescente bobo, mas vamos ter de esperar que cresça

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Sou um velho apreciador de biografias que investigam os hábitos de higiene do biografado.

Gostei de saber, por Walter Isaacson, que Steve Jobs cheirava tão mal que foi colocado no turno da noite, quando na Atari, para incomodar menos. Ou que apreciava andar descalço e enfiar os pés no vaso sanitário do banheiro privativo.

É natural que uma pessoa desenvolva capacidades especiais para inventar aparelhos que permitem comunicar a distância quando vê que outros evitam se aproximar. Era tomar banho ou inventar o iPhone, e Steve Jobs optou a segunda.

Também descobri com interesse, por via de outro autor, que os dentes de Mao Tse-tung, de tão sujos, se revestiam de uma película verde e as suas gengivas vertiam pus. Percebi então que a autocrítica maoísta não abrangia a higiene oral, fato que nenhum manual de ciência política ensina.

Luiza Pannunzio desenhou o mais recente livro de Elon Musk que é uma biografia e tem o rosto dele na capa com as pontas dos dedos junto ao queixo. O livro está entreaberto e dele caem palavras que o leitor desta coluna pode juntar e formar frases - como: super vilão - é mais fácil amar uma abstração - não gosta das pessoas, mas gosta da humanidade - ego.
Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araujo Pereira de 16 de setembro de 2023 - Follhapress

Isaacson dedicou-se agora a biografar Elon Musk. Infelizmente, não há muitas referências à higiene pessoal do dono da Tesla, salvo a revelação de que, no início da vida empresarial, várias vezes dormia no escritório e, em dias de receber clientes, alguém tinha de o intimar a tomar banho em casa.

Mas Isaacson dedica alguns parágrafos ao humor de Musk. Diz que o homem que sonha com idas a Marte tem uma predileção especial pelo emoji de cocô e por peidos. Parece que, se dermos a ordem "abrir o buraco da bunda" em um Tesla, o carro abre a portinhola de carregamento elétrico, situada na traseira do veículo.

Sobre o "fart app", que permite aos proprietários de um Tesla apertar um botão que faz o banco do passageiro emitir o som de um peido quando alguém se senta nele, o visionário que deseja uma humanidade multiplanetária diz: "É, provavelmente, minha melhor obra".

Estamos, assim, nas mãos de uma criança multimilionária. Parece uma mistura bastante perigosa. Tem qualquer coisa de super-vilão da Marvel e de pré-adolescente bobo. Vamos ter de esperar que ele cresça.

A biografia diz que Musk tem alguma dificuldade em se relacionar com humanos, mas ambiciona salvar todas as pessoas. Não gosta muito de pessoas, mas ama a humanidade.

De fato, é muito mais fácil amar uma abstração. Resta-nos rezar para que ele descubra depressa que não é possível sentar a humanidade num banco que emite som de pum.

O menino Elon terá de perceber que só pode brincar com outros. A humanidade não dá.

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