Ricardo Kotscho

Jornalista e escritor, autor de ‘Do Golpe ao Planalto – Uma vida de repórter’

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Oposição ao governo Bolsonaro está no Planalto

Enquanto presidente dá tiros no pé, partidos contrários a ele simplesmente sumiram

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O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Evaristo Sa/AFP

Com o PT e Ciro Gomes agora em guerra aberta, a maior oposição ao novo governo está dentro do Palácio do Planalto. O fogo amigo é liderado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que só dá tiros no pé e a toda hora é obrigado a recuar nas suas decisões.

Ao assumir sem um programa de governo definido, o capitão reformado anuncia medidas no varejo, tuitando em média quase dez mensagens por dia. Depois, os ministros têm de traduzir e explicar. 

Entre um tuíte e outro, acabou com os ministérios do Trabalho e da Cultura, mudou radicalmente a política externa, tentou detonar a reforma agrária e o livro didático, depois voltou atrás, e resolveu parar a comitiva presidencial para comer um cachorro-quente num trailer.

Quem assumiu o papel de ventríloquo oficial foi o general Augusto Heleno, chefe do GSI, principal conselheiro do presidente desde a transição. 

Em menos de duas semanas, num ritmo frenético, com sua voz cada vez mais rouca e ar cansado, general Heleno já teve que traduzir a instalação de base militar americana no Brasil, comemorada pelos EUA, a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém, mudanças no IOF e no IR e a revisão do acordo Boeing-Embraer, entre outras medidas com menor potencial de estrago.

Enquanto isso, a oposição partidária, dividida e sem rumo, simplesmente, sumiu. A sociedade civil continua em obsequioso silêncio. Ciro detona o ex-aliado PT, e o PT marca uma reunião para segunda-feira, dia 14, quase três meses após a eleição, para ver o que vai fazer da vida. Pode ser tarde demais. A montanha-russa da nova ordem está girando depressa, não deixando pedra sobre pedra em nenhuma área. 

Sem ter até agora uma política de comunicação fora do Twitter e ainda órfão de porta-voz, Bolsonaro dá longas entrevistas coletivas em pé, no popular estilo “quebra-queixo-deixa-que-eu-chuto”, deixando o mercado e aliados em sobressalto.

Pior ainda é quando passa a palavra a seus ministros, em especial a pastora da goiabeira, o chanceler apocalíptico e o ministro da Educação colombiano que não consegue explicar seus planos baseados na Escola sem Partido para combater o “marxismo cultural”. 

De trombada em trombada, de recuo em recuo, os vários feudos civis e militares, após duas tentativas frustradas em reuniões ministeriais, ainda não conseguiram sequer definir as prioridades e as primeiras medidas do novo governo na área econômica. De política social, nem se fala.

Não adianta só torcer, se o time é ruim, e ainda não aprendeu a jogar. Pelo jeito, general Augusto Heleno vai ter muito trabalho pela frente. 

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