Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

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Rodrigo Tavares

A faceta mais inovadora da cooperação entre o Brasil e Portugal

Relação acadêmica e científica entre os países é pujante, com novas oportunidades surgindo

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Em 2015, quando a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal) lançaram uma chamada de propostas de pesquisas, bateram-se todos os recordes.

Apesar de a Fapesp ter acordos semelhantes com mais de cem agências em todo o mundo, nunca tinham recebido tantas propostas. Quem destaca este episódio é Henrique Brito Cruz, ex-reitor da Unicamp, ex-presidente e ex-diretor científico da Fapesp, em entrevista à coluna.

Se os fluxos comerciais e migratórios entre o Brasil e Portugal são muitas vezes afunilados por expetativas históricas ou contingências linguísticas, na área da educação e ciência, a relação é estável, sofisticada e moderna. Mas nem sempre foi assim.

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, instituição de ensino público localizada no Campo Grande, em Lisboa - João Carvalho-30.set.11/Wikipédia Commons

Até há cerca de duas décadas, a cooperação bilateral científica incidia em pesquisas sobre a história ou o idioma comum e era apoiada por instituições como o Instituto Camões de Portugal. A extinta Comissão para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, órgão português, também criou cátedras em universidades brasileiras para divulgar a história e cultura lusófona. Fazia-se pesquisa contemporânea a olhar apenas para o passado.

Mas tudo mudou nos últimos 20 anos. A assinatura de vários acordos entre a Fapesp, FCT, Capes e CNPq, juntamente com uma parceria, firmada em 2014, que permite o ingresso em universidades portuguesas (atualmente 55) de alunos brasileiros por meio do Enem, virou o jogo. Também neste período Portugal criou uma conhecida rede de centros de divulgação de ciência (Centros Ciência Viva), espalhados por todo o território, que se inspirou no programa Ateliers de Ciência Vivo do Rio de Janeiro.

Quais os resultados? Nunca houve tantos universitários brasileiros (cerca de 19 mil) ou professores e alunos de doutorado residindo em Portugal (cerca de mil). Mas há um dado que ainda é mais revelador: o volume de publicações científicas anuais em coautoria entre portugueses e brasileiros.

Se até meados da década de 1990 contavam-se pelos dedos de uma mão, em 2021 superaram as 3.500. Apoiando-se na base de dados bibliométrica da Elsevier a pedido da coluna, Brito Cruz aponta que no período de 2019 a 2021, Portugal foi o 6º parceiro mais importante do Brasil, atrás de EUA, Reino Unido, Espanha, Alemanha e França.

No quadriênio 2018-2021, a principal área de pesquisa em coautoria foi medicina, seguida por engenharia, e física/astronomia. Observa-se também excepcional crescimento em ciências ambientais (nove vezes) e ciências sociais (11 vezes). Ou seja, os pesquisadores dos dois países começaram a olhar também para o futuro.

Mas ainda há desafios, como salienta à coluna Manuel Heitor, ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal (2015–2022). O principal é o "financiamento finito de ambas as partes".

Há 30 anos Portugal investia 0,6% do PIB e atualmente desembolsa 1,6%. No Brasil, essa porcentagem é de 1,2%. Ambos estão abaixo da média da OCDE (2,7%), o grupo das maiores economias mundiais. Recentemente, a Academia Brasileira de Ciências pediu aos candidatos presidenciais que se comprometessem com um investimento de 2% do PIB para ciência em até quatro anos, um valor nunca alcançado.

Mas o futuro é promissor. Manuel Heitor destaca os novos fundos da União Europeia de cooperação científica com o Sul Global, que incluem a América Latina e o Brasil. O bloco europeu dispõe de 96 bilhões de euros (cerca de R$ 486,6 bi) até 2027 para financiar pesquisa e inovação.

Uma parte destes recursos deverão permitir que a cooperação Brasil-Portugal dê um salto qualitativo, deixando de estar centrada na mobilidade de alunos e pesquisadores e se amadurecendo em torno de uma maior cooperação institucional, os chamados "arranjos colaborativos" entre instituições dos dois países. Deverão nascer hubs luso-brasileiros compostos por instituições acadêmicas e científicas e amarrados ao tecido empresarial, cultural e social local.

Funcionarão como campos magnéticos onde a sociedade e cientistas sociais e humanos participarão da mesma cadeia de valor. Áreas como saúde pública, sustentabilidade/bioeconomia e economia azul, temas centrais para o desenvolvimento econômico sustentável dos dois países, deverão ganhar destaque. Se antes os cientistas lusos e brasileiros pesquisavam a História comum, hoje fazem parte dela.

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