Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Os dois principais candidatos vêm para corroer a democracia

Haddad é menor pior, mas isso não quer dizer muito; de mãos dadas, caminhamos para o abismo

Os líderes da corrida eleitoral, segundo o Datafolha, Jair Bolsonaro (esq.) e Fernando Haddad
Os líderes da corrida eleitoral, segundo o Datafolha, Jair Bolsonaro (esq.) e Fernando Haddad - Paulo Whitaker - 17.ago.2018 - Nacho Doce - 26.set.2018/Reuters

O dia é noite, e o mar é seco. A China é o país mais capitalista do mundo, e os EUA flertam com virar uma república de bananas no pior estilo latino-americano. E hoje temos que conviver com o contraliberalismo.

Victor Orbán, premiê húngaro, é o maior sucesso da nova tendência da ordem mundial. Ele faz bem seu papel de minar os freios e contrapesos de um sistema democrático. 

O político contraliberal é um tipo de parasita, usando qualquer tática para invadir o hospedeiro e destruí-lo por dentro.

Na visão de Orbán, tão bem copiada por Donald Trump, como não há nenhum compromisso com a democracia, não há desvantagem em perder uma eleição. Como longo prazo, coalizões, vagas no Senado e na Câmara e influência em políticas públicas não importam, qualquer tática pode ser usada, por mais arriscada que seja. 

Trump gritou para que prendessem sua oponente e disse que resultado que não sua eleição seria fraude. Seu mundo começa e termina com Trump.

Orbán, depois de eleito (democraticamente, já que ganhar via eleição ou golpe é indiferente para um contraliberal), rapidamente reescreveu parte da Constituição para transferir o poder para ele e a corte de Justiça, onde colocou seus asseclas. 

Por fora, a Hungria é um país democrático, mas por dentro é um pão bolorento. O contraliberalismo não tem ideologia. Pode ser de esquerda, direita ou mesmo amorfo, como na Rússia de Putin

É difícil definir se Salvini, na Itália, chega a ser um, já que governa via coalizão. A progressão natural do contraliberalismo é o fascismo ou ditadura (olá. Maduro!), caso seja vencida a resistência das instituições democráticas.

É esse o caminho provável do Brasil. Os dois líderes de intenção de voto são parte da onda contraliberal, onde nada mais importa a não ser tomar e consolidar o poder, doa a quem doer. Obviamente, o líder das pesquisas apresenta ainda mais riscos, porque seu desejo ditatorial parece claro.

Já estamos nas mãos dos militares. Dizer que “não aceito resultado diferente da minha eleição” nada mais é que um pedido para que os militares tomem o poder em caso de derrota nas urnas. 

Ainda bem que a nossa elite militar, hoje, não parece querer entrar na roubada de apoiar um candidato que parece um clássico fascista. Mas a prova de que estamos no limite é termos que agradecer ao general Mourão, que, ao questionar que “perdeu, perdeu né?”, desarmou mais uma bomba, pronta para explodir o país, colocada pelo seu companheiro de chapa.

Restam-nos pouquíssimas esperanças. O PT cada vez mais mostra que não aprendeu nada com os erros do passado. Abandonou qualquer arremedo de plano democrático, usando das mesmas técnicas de Orbán, como regulação de mídia e proposta de governo radical (e muita transferência de renda aos ricos, marca registrada dos dois candidatos).

A ideia de uma eleição em dois turnos é limitar o dano de uma candidatura contraliberal (não antidemocrática, já que o contraliberal usa a democracia como ferramenta). Mas estamos vendo uma das poucas eleições na história na qual os dois principais candidatos vêm para corroer a democracia, embora ainda haja uma esperança de que o PT se mova para governar via coalização. 

Entre os dois candidatos, Haddad é menor pior, mas isso não quer dizer muito. Mesmo com o risco PT, #elenunca. O ideal seria que quaisquer outros dois candidatos entrassem no segundo turno. Mas de mãos dadas caminhamos para o abismo.

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