Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

EUA ou China, qual o império do futuro?

A corrida que importa é a da inovação, e Trump ameaça com seu populismo

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Com o crescimento chinês e a desastrada gestão da pandemia pelo governo Trump, será que a China desbancará os Estados Unidos como maior potência mundial?

Não nas próximas décadas, por uma razão em especial: os EUA, antes de serem a maior potência bélica, concentram os principais centros de pesquisa e desenvolvimento do mundo.

Não é à toa que as Faang (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google, agora chamada de Alphabet) valem muito mais do que antes do início da pandemia; US$ 5,5 trilhões hoje, ante US$ 4,1 trilhões em janeiro. Os valores são astronômicos, mas não caia na tentação de compará-los com o PIB brasileiro (cerca de US$ 1,5 trilhão). PIB é fluxo e, se for para contrapor, a receita total das Faang deve ser de US$ 860 bilhões neste ano, ou mais da metade de tudo a ser vendido no Brasil em 2020.

Também mais relevante que o valor de um punhado de empresas é que os investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento) nos EUA são 50% a mais que o total investido na China (15% a mais se ajustarmos pelos custos mais baixos no maior país do Oriente) e três vezes mais que no Japão.

Wang Yi, ministro de Relações Exteriores da China, durante entrevista à agência Xinhua, em Pequim
Wang Yi, ministro de Relações Exteriores da China, durante entrevista à agência Xinhua, em Pequim - Zhai Jianlan - 5.ago.20/Xinhua

A economia americana é a mais dinâmica do mundo pela combinação de escala, ambiente para empreendedorismo, instituições de ensino de ponta e elevada demanda por tecnologia.

Em 2020, serão investidos US$ 600 bilhões em P&D nos EUA. As esferas do governo americano, incluindo todo o complexo militar, respondem por US$ 160 bilhões desse valor. A maior parte vem mesmo das empresas privadas não relacionadas a tecnologias bélicas: pouco mais de US$ 380 bilhões. E são também as empresas privadas as que mais suprem as necessidades de pesquisa da sociedade: US$ 365 bilhões, com as universidades vindo em segundo lugar: US$ 90 bilhões.

No eixo central americano das buscas por novas tecnologias estão as instituições de ensino superior, roubando muitos dos melhores cérebros do mundo. Embora a distância para os EUA esteja diminuindo, ainda falta longo caminho para a China percorrer.

Nos EUA, os investimentos com P&D são 2,8% do PIB; na China, tais investimentos não chegam a 2% da renda nacional. Em alguns países, como a Coreia do Sul e Israel, desembolsos em novas tecnologias passam de 4% do PIB (no Brasil, ridículo 1,2% do PIB), mas os mercados locais não são grandes.

A China, assim como fez o Japão no passado, tenta criar ambiente propício à inovação. As empresas privadas já são, de longe, as que mais investem em P&D no país. Falta também um salto de qualidade, mas dá para prever que, em poucos anos, Made in China será sinal de qualidade.

Essa é a corrida que importa, e não se a China está comprando óleo de Angola, emprestando para obras no Paquistão, ou adquirindo terras na América Latina.

Trump pode realmente comprometer o futuro norte-americano pelo seu populismo de quinta categoria. Hoje, muitas famílias ainda planejam mandar seus filhos para as melhores universidades americanas, e novos empreendedores sonham em buscar recursos no Vale do Silício. Será assim no futuro?

Ainda é cedo para prever a derrocada do império, mas, se vier, será pela perda de proeminência da pesquisa americana. Os ataques contra a Huawei e TikTok são sinais de fraqueza. Mas absurdas mesmo são as tentativas de barrar imigrantes qualificados e limitar o número de alunos estrangeiros.

Populismo gera decadência, mas, mesmo com grande esforço de Trump, o dinamismo das empresas deve manter a superioridade americana por um tempo. Por um tempo.​

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