Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu juros

Dar um choque de juros nos EUA agora seria um erro

Há expectativas de que Fed repita 'choque Volcker' para combater inflação americana

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Nada é mais comum em análise econômica que extrapolação por causa de somente um novo dado. Mas os mercados desabaram depois que os dados de inflação nos EUA saíram meros 0,2% maiores que o esperado. Pior, espera-se agora que Federal Reserve vá colocar os juros nas alturas, em algo similar que o "Choque Volcker" da década de 80, que jogou o mundo em uma recessão profunda, a ponto de desestabilizar toda a América Latina.

O debate sobre a trajetória dos juros americanos não deveria ser influenciado pela inflação de agosto, mas parece que agora há grandes apostas que os juros nos EUA vão disparar.

Os membros do Fed já foram a público anunciar que os juros devem continuar subindo, mas as expectativas são de que o banco central americano possa repetir o que fez Volcker no passado. Contudo, isso seria um erro; catastrófico para países emergentes. O Fed errou por não ter começado a subir os juros meses antes, mas agora pode falhar ao subir muito rapidamente os juros básicos da economia.

Jerome Powell, presidente do Fed, fala em coletiva de imprensa em Washington - Mandell Ngan - 8.set.202/AFP

Ainda hoje, não é claro se o choque Volcker foi tão efetivo em combater a inflação, já que havia indícios de desaceleração dos preços no início da década de 80. Contudo, havia um argumento claro para se jogar os juros na estratosfera: a inflação americana ficou muito acima do normal por quase dez anos.

De 1970 a 1973, a inflação americana oscilou entre 3 e 4%. Em 1974, com o PIB retraindo-se em 2% por causa da primeira crise do petróleo, a inflação passou de 12%. De 1975 a 1978, os preços aumentaram mais de 6% ao ano. Em 1979 e 1980, com o segundo choque do petróleo, a inflação foi de novo a mais de 2 dígitos, mais de 12,5% por ano.

Volcker assumiu o Fed em agosto de 1979, com os juros em 10,5%. Em outubro, convocou uma reunião surpresa que jogou a taxa de juros a quase 14%. Em abril de 1980, os juros já estavam em mais de 17%, com a máxima histórica atingindo 19% em junho de 1981. Como resultado, os EUA passaram por duas recessões em três anos, o desemprego passou de 10%, houve um princípio de crise financeira, e agricultores chegaram a fechar o centro de Washington com seus tratores, protestando contra o aumento dos juros.

Mas hoje, não há indícios de que a inflação mundial está aqui para ficar. No acumulado, o CPI (Consumer Price Index), equivalente ao IPCA americano, está em 9%, mas já parou de acelerar. Além disso, grande parte da inflação é resultado de restrições de oferta pela crise de suprimentos global, algo que não está relacionado à taxa de juros e que não deve piorar. No início da década de 80, muitos dos preços e salários americanos estavam indexados à inflação passada. O choque de juros fazia algum sentido naquele cenário. Hoje, já não faz.

Ainda assim, vamos ver os juros americanos subir. Mas uma reação extrema vai jogar o mundo em recessão.

No Brasil, a versão Bolsonarinho paz e amor só engana quem é muito trouxa. Depois de fazer dezenas de piadas contra o sofrimento do povo, agredir verbalmente jornalistas, propagandear cloroquina e adiar vacinas enquanto chamava a sociedade de maricas, alguém acredita que ele se arrependeu de alguma coisa? O presidente nunca demostrou qualquer empatia; nem ele, nem ninguém da sua equipe. Só sabe se comportar em um de dois modos: com agressividade ou se fazendo de vítima. Vendo a derrota chegando vestida de vermelho, tenta qualquer tática para se manter no poder. E continuar sua carreira de coveiro.

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