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Entenda o que é uma curva de juros e por que sua inversão nos EUA preocupa

Mercado de títulos lança alerta sobre perspectivas de crescimento do país

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Chelsea Bruce-Lockhart Emma Lewis Tommy Stubbington
Londres | Financial Times

Os mercados de títulos estão lançando um sinal de alerta sobre as perspectivas de crescimento da economia dos Estados Unidos, no exato momento em que os bancos centrais se preparam para combater a disparada da inflação por meio de um aumento na taxa de juros.

A disparidade entre os custos de captação em curto e longo prazo pelo governo se reduziu drasticamente nas grandes economias desenvolvidas, do trimestre final do ano passado para cá. Nos Estados Unidos, uma "inversão da curva de juros" aconteceu no mês passado, pela primeira vez desde 2019 –um evento que no passado serviu de prenúncio a desacelerações econômicas.

"Historicamente, tende a acontecer uma recessão nos Estados Unidos um ano depois que a curva se inverte, ainda que a variação seja grande e que ocasionalmente haja falsos indicadores", disse Priya Misra, que comanda a área de estratégia mundial de juros da corretora TD Securities.

Fachada do Fed, em Washington - Saul Loeb/AFP

O que é uma curva de juros?

Os investidores não dispõem de uma bola de cristal, mas a curva de juros é um bom substituto.

A curva de juros mostra as taxas que os compradores de títulos de dívida do governo exigem antes de emprestar seu dinheiro por períodos variados de tempo –seja no overnight, um mês, dez anos ou até mesmo cem anos.

Por que emprestar dinheiro aos governos de economias grandes e desenvolvidas como as dos Estados Unidos, Alemanha, Japão e Reino Unido é considerado uma aposta segura, essas taxas de captação são influenciadas principalmente pelas avaliações dos investidores quanto às perspectivas de crescimento econômico e inflação, e pelo efeito que isso terá sobre as taxas de juros dos bancos centrais.

A curva de juros dos Estados Unidos, especialmente –graças à posição central do dólar no sistema financeiro mundial–, funciona como uma espécie de barômetro da sabedoria coletiva dos investidores sobre o percurso futuro da maior economia do planeta, e seu histórico quanto à sinalização de desacelerações antes que elas ocorram é forte.

"As pessoas se empolgam com a curva de juros porque, historicamente, ela sempre previu bem a chegada de recessões", disse Richard McGuire, estrategista de renda fixa no Rabobank.

A curva de juros em geral é ascendente, o que aponta que emprestar dinheiro por períodos mais longos propicia uma taxa de retorno fixo mais alta. O rendimento de empréstimos de prazo mais curto tende a representar aquilo que os investidores acreditam que vá acontecer com as políticas dos bancos centrais no futuro próximo. Vencimentos mais longos representam o melhor palpite dos investidores sobre a direção que a inflação, o crescimento e as taxas de juros tomarão em médio e longo prazo.

No entanto, quando uma economia está se desacelerando e as expectativas de inflação caem, os rendimentos sobre os títulos de dez e 30 anos tipicamente caem em direção daqueles oferecidos pelos papéis de vencimento mais curto, como as notas de três meses e dois anos, já que os investidores apostam que haverá menos necessidade de os bancos centrais elevarem os custos de captação no futuro; em lugar disso, eles podem ter de encorajar gastos.

Essa atenuação da curva de juros pode em algum ponto se tornar um sinal recessivo, especialmente se a curva se inverter e passar a ser descendente, como aconteceu na semana passada. Uma "inversão" da curva de juros precedeu cada uma das recessões acontecidas nos Estados Unidos nas últimas cinco décadas.

Existem duas explicações possíveis quanto a esse poder preditivo, explica McGuire. Uma é que as operações no mercado de títulos do Tesouro americano, que movimenta US$ 23 trilhões, servem como uma espécie de sistema de alerta antecipado, identificando a aproximação de perigos que as análises individuais podem ter dificuldade para detectar. A outra é que mudanças na forma da curva desempenham um papel ativo na deflagração de desacelerações, porque solapam a confiança na economia.

Durante períodos de expansão econômica e de política monetária muito acomodatícia, nos quais os governos recorrem a baixas taxas de juros para encorajar gastos e estimular a atividade econômica, a curva de juros se torna mais ascendente. Isso aconteceu durante a crise financeira de 2008-2009 e no começo do ano passado, depois da recessão causada pela pandemia.

A razão para essa virada é que os investidores em títulos antecipam rendimento mais alto no futuro, porque uma economia mais forte pode gerar um ritmo mais rápido de inflação caso a procura na economia comece a superar a oferta de bens e de mão de obra. Nesse cenário, o banco central precisará em algum momento adotar taxas mais altas de overnight a fim de encorajar as pessoas a poupar mais, no lugar de gastar.

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