Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu Eleições 2022

Voto pela democracia

Neste domingo, decidimos entre uma democracia falha e um projeto de poder que pode transformar o Brasil em uma Venezuela; só que de extrema direita

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Democracias também acabam através do voto. E talvez hoje seja a penúltima noite de um Brasil democrático. Neste domingo (30), decidimos entre uma democracia falha e um projeto de poder que realmente pode transformar o Brasil em uma Venezuela; só que de extrema direita.

Lembra quando um escândalo era a ex-mulher de um candidato falar mal dele? Pois bem, essa foi a estratégia de Collor contra Lula no início dos anos 1990. Hoje, o aliado do presidente pode jogar granadas na polícia que em cinco minutos sua claque entra em campo para tentar separar a imagem da família Bolsonaro da do seu grande aliado, Roberto Jefferson.

No Brasil, os bolsonaristas seguem à risca o manual para um golpe: demonizam inimigos, tentam desmoralizar a imprensa, espalham fake news e minam o Judiciário. O jogo é sujo e pode terminar em golpe. Na história, não faltam exemplos semelhantes.

O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) - Mariana Greif/Reuters e André Coelho/AFP

Pior, a tática bolsonarista de inundar o noticiário com mentiras e um absurdo atrás do outro parece funcionar. O governo não compra vacinas? O presidente vai lá e anuncia para todo o mundo parar de mimimi, depois dizendo que nenhum país tinha vacina em 2020 (o que é mentira).

Resultados ruins na pesquisa? Inventa-se que rádios estariam de complô contra o presidente. O governo inventa métrica do PIB privado? Sem problemas, porque o secretário vem anunciar que não vai ter segunda onda. O presidente insinua que meninas venezuelanas são prostitutas? Ele vai lá e apoia alguém que atira na polícia.

A sequência de absurdos é infinita. Qualquer dos erros monumentais do governo já deveria ser motivo para o presidente não ter 1% das intenções de voto. A tática à la Trump de fazer o mundo girar em torno da insanidade presidencial parece que dá certo. Mas, para o bem do Brasil, espero que só até certo ponto.

O risco à nossa democracia não é só o presidente ganhar a reeleição. Seus candidatos aos governos de São Paulo e Rio Grande do Sul, dois dos estados mais ricos do país, estão prontos para ajudá-lo a destruir as instituições brasileiras.

Golpes vêm em todas as cores. Jaime 2º, rei da Inglaterra, era católico, mas suas duas filhas do primeiro casamento eram protestantes (assim como seus maridos). Quando a sua segunda mulher deu à luz a um filho homem, alguns parlamentares anunciaram que ele na verdade teria morrido ao nascer e outro bebê teria sido trazido ao palácio. Assim, isso justificaria apoiar um golpe para garantir que nenhum católico continuasse no poder.

Resultado? Os golpistas escreveram para Guilherme 3º para invadir a Inglaterra, resultando na "Revolução Gloriosa." Se o objetivo é claro, justificativas são criadas ao bel-prazer de quem quer tomar o poder.

O PT, com todas as suas falhas, entregou um país democrático. Dilma sofreu um impeachment e saiu como manda o processo político. Contudo, Bolsonaro e sua equipe não querem saber de regras. Destroem tudo a sua frente. Meu medo não é salário mínimo (que vai cair em termos reais), aposentadorias a serem cortadas ou ainda mais danos econômicos. Estamos à beira de um golpe bolsonarista.

É triste que posso repetir o mesmo parágrafo final da coluna anterior ao primeiro turno. "Por pior que seja a candidatura petista, é melhor que a barbárie. Vote em Lula, pelo amor dos brasileiros. Não é preciso ser sábio para saber como termina o filme com a extrema direita no poder. O Brasil morre no final."

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