O deputado estadual Fernando Cury (Cidadania), denunciado sob acusação de ter importunado sexualmente a deputada Isa Penna (PSOL) no plenário da Assembleia Legislativa em dezembro de 2020, afirmou à Justiça que deu um abraço "superficial" e "fugaz" na parlamentar.
Cury, que retomou no dia 6 de outubro o seu mandato após ter sido afastado por seis meses do Legislativo pelos colegas, em votação unânime, afirmou que não teve a intenção de prejudicar ou constranger Isa Penna e que não cometeu assédio sexual. "Nunca houve apalpação de partes íntimas, nunca houve apalpação dos seios, nunca houve encoxada."
Procurada pela coluna para comentar as declarações, Isa Penna disse que tudo foi muito rápido, pois logo reagiu. "Assim que vi o vídeo, entendi o que tinha acontecido. Não é a intensidade do toque que determina se uma mulher foi assediada ou não", afirmou. "A palavra certa é assediada. Não existe categoria no assédio que nos diga qual é a intensidade necessária para se chamar um assédio de apalpo ou toque. Isso tudo é lamentável."
Mario Luiz Sarrubbo, procurador Geral de Justiça de São Paulo, afirmou na denúncia que Cury "agiu com clara intenção de satisfazer sua lascívia". Disse que o parlamentar praticou atos que "transcenderam o mero carinho ou gentileza, até porque não tinha nenhuma amizade, proximidade ou intimidade com a vítima". De acordo com o procurador, "ele violou o seu dever funcional de exercer o mandato com dignidade".
Na defesa apresentada na Justiça, o deputado afirmou que a deputada "politizou" o assunto, apresentando uma versão do episódio no Instagram e outra ao Ministério Público. Segundo ele, na rede social, Isa Penna afirmou que ele havia "apalpado" seus seios. Já no depoimento oficial, sempre segundo a versão que o parlamentar apresentou à Justiça, a deputada teria dito que houve um toque "muito leve e muito rápido".
"Não ocorreu toque em regiões de maior intimidade da deputada Isa Penna, muito menos ‘toque forçado’", afirmou o parlamentar.
Os advogados do deputado disseram no processo que se está tentando transformá-lo em "ícone do homem machista da sociedade brasileira a ser combatido e abatido, o alvo de toda causa feminista no Brasil". "Não é justo buscar expiar culpas dos homens machistas do Brasil no deputado Fernando Cury." O deputado é representado pelo escritório Delmanto Advocacia.
A deputada afirmou à coluna que Cury promove "violência política". Ela disse fazer parte da luta feminista contra a violência contra as mulheres. "O tipo de violência praticada pelo deputado é, sobretudo, uma violência política. Não se trata de uma tática, mas de falar o que é, da forma como é. Isso incomoda muita gente mesmo."
O Tribunal de Justiça ainda não analisou o caso.
No dia 22 de novembro, o Cidadania deve se reunir para decidir se expulsa ou não o parlamentar do partido.
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