Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos

Como premiar a moderação na rede?

Em busca de likes, acabamos todos incentivados a nos tornar pornógrafos na rede

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Quer ter uma experiência completamente diferente da internet? Basta instalar no seu navegador o plug-in chamado Demetricator. Ele oculta totalmente os likes, coraçõezinhos, joinhas, retuítes, compartilhamentos e outras métricas que são usadas para indicar quantas pessoas se “engajaram” com uma publicação.

A experiência é atordoante. Estamos tão acostumados a enxergar os números das reações que vêm com cada publicação —e a acreditar que eles servem como índice do que é importante na rede— que ficamos completamente perdidos ao navegar sem essas referências. Ao enxergar um post sem esses números, somos obrigados a ver o conteúdo por si só, nu e cru, sem adornos, e a pensar qual o valor que aquilo tem por si.

Esse experimento com o Demetricator pode ajudar a melhorar a internet. O estado geral da rede hoje é de inflamação generalizada. Por causa desses números (likes, compartilhamentos, retuítes), as redes sociais se tornaram um concurso de histeria. Ganha quem é mais histriônico, chocante ou apelativo.

Símbolo do Facebook em Paris, na França
Símbolo do Facebook em Paris - Benoit Tessier/Reuters

Há estudos científicos (como o do pesquisador Deb Roy, do MIT) que mostram que conteúdos apelativos, simplórios ou mentirosos se espalham mais rápido e mais amplamente na rede. Por exemplo, levantamento da Folha mediu quais posts no Twitter produziram mais engajamento na conta do presidente da República. Não houve surpresa. No topo, ficaram os com o tema “Golden Shower”.

Em outras palavras, a busca pelo engajamento inflamou não só a internet mas também a sociedade e a política. Em busca de likes, acabamos todos incentivados a nos tornarmos pornógrafos na rede, produzindo conteúdo cada vez mais chocante, criando um círculo vicioso e inflamatório.

Dá para começar a corrigir esse estado de coisas. Um caminho é repensar a arquitetura das redes sociais.

É preciso criar mecanismos mais sofisticados de indexar a importância do que é publicado por meio delas. Hoje, o mecanismo é simples: quanto mais radical um post, mais engajamento ele gera, o que, por sua vez, leva a mais distribuição e ainda mais engajamento.

Essa dinâmica não precisa ser assim. Esse desenho premia o extremismo. É possível sim um desenho que premie racionalidade e moderação. 

Seu post não causou nenhuma reação violenta nem compartilhamentos ensandecidos, mas ainda assim foi muito acessado? Parabéns. Você provavelmente publicou algo que mexeu mais com a cabeça do que com o fígado das pessoas. Seu conteúdo será então distribuído mais amplamente. Contrariamente, quem quisesse chocar com xingamentos e outras técnicas manjadas iria para baixo.

Criar uma métrica assim permitiria que os usuários pudessem organizar sua própria experiência na rede. Quem quisesse ver histeria ficaria livre para isso. Mas quem estivesse cansado e quisesse ver moderação, em vez de radicalização inflamatória, poderia selecionar essa outra opção, que hoje não existe. 

Seria ótimo, por exemplo, ver um “trending topics” dos conteúdos mais moderados do dia. Em outras palavras, criar novos critérios de organização da informação e deixar que os usuários decidam como querem ver suas timelines é um caminho promissor para trazer mais racionalidade para a internet.

Reader
Já era Acreditar que a internet levaria a uma maior harmonia entre as pessoas

Já é Redes sociais produzindo radicalização, narcisismo e individualismo

Já vem Repensar a arquitetura da rede, como já começou a fazer Tim Berners-Lee, inventor da www

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