Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Carne vegetal e o futuro do agro

China, parceiro comercial do agronegócio brasileiro, quer aumentar sua independência alimentar

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Se existe uma área em que o Brasil é claramente competitivo globalmente é o agronegócio. No entanto, seria irresponsável acreditar que o sucesso econômico atual do agro brasileiro vai durar para sempre. Mudanças geopolíticas, tecnológicas, de inovação e preferência do consumidor ameaçam a aposta que o Brasil faz no setor.

Primeiro, vale lembrar que o sucesso do agro acontece em correlação direta com a ascensão econômica da China. Em 1980 a China importava 16,4% da soja que consumia. Em 2020 esse volume chegou a 84,1% de acordo com dados da FAO. Não é pouca coisa. A China precisa alimentar hoje 18% da população mundial, mas possui apenas 6,5% das terras aráveis. O Brasil aproveitou essa oportunidade para se estabelecer como fornecedor, aplacando parte dessa demanda.

Hambúrgueres a base de planta em fábrica de São Paulo - Gabriel Cabral - 7.jul.2021/Folhapress

No entanto, desde 2021 o tema da independência alimentar vem crescendo rapidamente na China. Nesse sentido, o plano quinquenal lançado em 2021 é leitura obrigatória para todo o setor de agro brasileiro.

O plano coloca em prática quatro estratégias essenciais. A primeira é preservar as terras aráveis e aumentar a produção local de grãos. A segunda é investir fortemente em ciência e tecnologia agrícola e em agricultura "smart". A terceira é maior controle e investimento em sementes e variedades de plantas. A quarta é promover a diversificação de fontes de importação, evitando a dependência de qualquer país. Não por acaso o presidente Chinês fez diversas afirmações em 2021 no sentido de reduzir qualquer tipo de dependência, por exemplo, afirmando que "nunca podemos permitir que outros controlem nossa capacidade de alimentação, que é uma questão básica de sobrevivência".

Além disso, afirmou que a China precisa "obter calorias e proteínas a partir de plantas". Essa frase sinaliza em direção ao mercado crescente de proteínas vegetais e de "carne" feita a partir de plantas.

A projeção do Good Food Institute (GFI) é de que a demanda por proteína de plantas será crescente ao longo da década, chegando anualmente à necessidade de produzir 30 milhões de toneladas métricas até 2030. De acordo com o mesmo instituto, esse setor hoje tem mais demanda do que a oferta é capaz de suprir.

Olhando para os preços, é uma área em que a China poderá ser competitiva. Um quilo de concentrado proteico feito a partir de plantas custa hoje naquele país de US$ 2,5 a US$ 5,5 (pureza menor de 90%). Já no Canadá, um quilo do mesmo produto custa cerca de US$ 15, dando sinais de inversão de competitividade em favor da China quando se trata de proteína vegetal.

Um dos problemas é que esse mercado de proteína vegetal é altamente incerto do ponto de vista de padronização. Falta ainda uma definição clara do que vem a ser "carne de planta" e diretrizes para rótulos e publicidade. No entanto, olhando para a quantidade de capital de risco ingressando nesse setor (US$ 3,1 bilhões, ou R$ 15,8 bilhões, só em 2020) é de se esperar um crescimento contínuo. O Brasil tem de ficar de olho.

P.S. Agradeço aos alunos do Schwarzman College, Muhammad Sidiqui, Petrie, Chatha, Han e Hu pela excelente pesquisa.


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