Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Por que a China desmonta suas techs?

Muitos repetem o clichê de que o Brasil não é para principiantes; a China é menos ainda

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Um dos fenômenos mais inacreditáveis do tempo presente é o fato de a China estar desmantelando suas empresas de tecnologia. Muitas empresas do país tornaram-se conhecidas mundialmente por seu crescimento voraz e agora estão passando por um desmonte.

Um dos primeiros casos foi o cancelamento da oferta pública de ações do grupo Ant Financial, parte do Alibaba. Essa oferta teria sido a maior da história e simplesmente não aconteceu. Ao contrário, o governo impôs uma multa gigantesca por comportamento anticoncorrencial ao Alibaba (que é comparado à Amazon) e tomou uma série de medidas contra a empresa. Como resultado, o valor do grupo empresarial caiu mais de 50%.

O desmantelamento inclui também a Didi (análoga ao Uber), redes sociais, empresas como a Baidu, todo o vibrante setor de fintechs ou, ainda, o poderoso setor de games do país.

Mais curioso ainda é que o processo inclui também as edtechs, empresas de tecnologia educacional que vinham tendo um crescimento astronômico no país. Só para dar um exemplo, o TAL Education Group, que oferecia aulas de reforço fora do período da escola, teve uma queda de 76,71% no valor das suas ações na semana passada. Muita gente gosta de repetir o clichê de que “o Brasil não é para principiantes”. A China é menos ainda.

Logo de aplicativo da empresa Didi, big tech chinesa - Florence Lo - 1.jul.21/Reuters

Mas por que o país está tomando essas ações? Há diversas explicações, algumas convincentes, outras, nem tanto. O primeiro ponto é que o país está desmantelando só um certo tipo de empresa de tecnologia, aquela que oferece serviços diretos para o consumidor.

Na área de infraestrutura tecnológica, pesquisa, telecomunicações e setores avançados, a China nunca esteve tão ambiciosa. O país está buscando, por exemplo, desenvolver total autonomia na fabricação de chips e de outras peças fundamentais da infraestrutura tecnológica.

É como se estivesse trocando a inovação na superfície da internet por uma inovação nas camadas mais profundas da tecnologia. Algo que os EUA fizeram muito bem nos períodos de ouro da Darpa (Agência de Pesquisa e Projetos Avançados em Defesa), como nos anos 1960 e 1970. A Darpa inventou nada mais nada menos do que a própria internet, o GPS, a Siri, o mouse e vários avanços essenciais em robótica.

O que a China busca são inovações do tipo Darpa, capazes de gerar saltos de produtividade. E deixar de lado inovações que geram conveniência para o consumidor, mas não aumentam em nada a produtividade e podem até diminuí-la, ao desequilibrar a competitividade e aumentar a desigualdade.

Além disso, a China parece estar buscando um antídoto à chamada “brasilianização” do mundo, sobre a qual escrevi na coluna anterior. Não quer deixar que empresas privadas substituam funções essenciais do Estado ao oferecer serviços de alta qualidade somente para uma elite, inclusive no que diz respeito a serviços essencialmente públicos, como educação e transporte.

Nesse sentido, é um movimento hegeliano do país. Lembra a visão do historiador Jean-Jacques Chevalier, que dizia que os serviços públicos são “a chave de abóbada do Estado”.

Na perspectiva chinesa, as empresas de tecnologia de consumo ousaram tocar nessa chave. Estão agora pagando um alto preço por isso.

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Já era Fomo na pandemia (Fear of Missing Out – medo de perder alguma coisa)

Já é Fobo na pandemia (Fear of Being Offline – medo de ficar sem conexão)

Já vem Foda (Fear of Dating Again – medo de voltar a paquerar)

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