Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Descrição de chapéu Folhajus tecnologia Apple

Neurodireitos: o cérebro é a nova fronteira

Estamos próximos do momento em que aparelhos poderão interpretar o que se passa na nossa cabeça diretamente

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Nas últimas semanas a empresa Neuralink anunciou sucesso em implantar o primeiro chip funcional no cérebro de uma pessoa. O paciente agora consegue controlar um cursor na tela diretamente com o cérebro. Apesar de o crédito recair em Elon Musk, é importante lembrar que esse tipo de pesquisa tem como pioneiro o cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que deveria junto com seus colegas ser mais lembrado quando se fala desse tema.

Elon Musk aparece detrás de logo da Neuralink, exebido em tela de computador
O bilionário Elon Musk, fundador da empresa de 'neurotecnologia' Neuralink - Dado Ruvic/Reuters

A tecnologia da Neuralink está longe de ser a única a avançar na colonização cerebral. Há uma verdadeira corrida do ouro nesse sentido. Há várias tecnologias que não requerem cirurgia nem intervenções físicas. A Apple está desenvolvendo uma versão futura dos seus fones de ouvido Airpods que consegue ler sinais cerebrais através do ouvido.

É possível hoje comprar uma bandana que faz eletroencefalograma em tempo real. O produto custa cerca de R$ 1.500 e é utilizado para fins de meditação. Enquanto medita o usuário vai recebendo um sinal sonoro indicando seu grau de relaxamento conforme suas ondas cerebrais. É como um guia de meditação que dá feedback baseado na leitura direta do cérebro.

E, é claro, a chegada da inteligência artificial está levando ao desenvolvimento de sensores que traduzem pensamento diretamente em texto. A Universidade de Austin tem sido protagonista nesse tema. Apesar de ainda não haver um produto específico, o resultado da pesquisa saiu na revista Nature com o pomposo título de "reconstrução semântica de linguagem contínua a partir de gravações não invasivas do cérebro".

Em suma, não estamos distantes do momento em que nossos aparelhos serão capazes de interpretar o que se passa na nossa cabeça diretamente. Nesse cenário, o que fazer?

A resposta tem acontecido principalmente no campo do direito. E, vale notar, nossa América Latina tem sido pioneira em avançar nos chamados neurodireitos, um conjunto de direitos e obrigações que buscam proteger cada pessoa contra as diferentes possibilidades de manipulação cerebral.

O pioneiro nesse novo tipo de direitos foi o Chile. O país aprovou em 2021 uma emenda modificando sua Constituição para proteger a atividade cerebral e as informações relacionadas a ela. Curiosamente, a Suprema Corte do país decidiu o primeiro caso sobre o tema no ano passado. Nele, um cidadão chileno processou a empresa Insight, que vendia dispositivos portáteis de monitoramento cerebral no país. A decisão determinou que a empresa não protegia adequadamente a privacidade dos usuários e, na prática, consagrou a importância dos neurodireitos.

Vale notar que no Brasil há um projeto de emenda constitucional de 2023 que quer colocar o "direito à integridade mental" na Constituição. Além disso, há um projeto de lei de 2022 para alterar a lei de proteção de dados definindo o conceito de "dado neural", criando uma série de proteções. Argentina e México também estão tratando do tema. Nos EUA, o Colorado já aprovou uma lei sobre o tema, com amplo suporte bipartidário. Outros estão seguindo o mesmo caminho. Esse assunto veio para ficar. Vamos cada vez mais ouvir falar de neurodireitos. Ainda bem.

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