Manuela D’Ávila, pré-candidata do PC do B à Presidência da República, estava outro dia no meio do povo em Curitiba quando um sujeito propôs-lhe tirar uma selfie. Ela disse OK. Eles se abraçaram e fez-se o clique. Ato contínuo, o sujeito desprendeu-se, gritou “Aqui é Bolsonaro!”, ou algo assim, e saiu triunfante —era um provocador. Manuela, claro, indignou-se. Mas pelo motivo errado: “Ninguém tem o direito de tocar no meu corpo!”, declarou.
Ali falou, e com razão, a menina Manuela. Mas a mulher que pretende disputar a Presidência pode se preparar para isso ou até pior. Em campanha, ela será tocada muitas vezes e sem direito a estrilar —se quiser realmente atingir as massas.
Uma campanha eleitoral é das atividades mais promíscuas que se conhece. O candidato não é obrigado apenas a viajar aos mais remotos grotões, dizer muito prazer a gente que nunca desejará ver de novo e almoçar quatro vezes por dia, comendo os torpedos mortíferos de cada região. Terá também de habituar-se a beijar bebês mijados, apertar mãos encharcadas, aguentar abraços de corpos suados e receber no rosto os hálitos mais repulsivos.
A possibilidade de amassos inconvenientes nessas aglomerações é grande, e nada mais impróprio para receber uma aglomeração do que um palanque. Naquele espreme-espreme —todo mundo quer ficar o mais perto possível do candidato—, sempre pode haver uma mão deixada para trás ou um objeto não identificado esfregando-se sem querer. E ai do candidato que fizer seus discursos em palanques vazios, sem se ver prensado pelos papagaios de pirata.
Cada candidato encara à sua maneira esse corpo a corpo com a massa. Para Lula, não havia problema —ele próprio transferia alguns litros de suor para quem o abraçasse. Já para Fernando Henrique Cardoso tanta intimidade era um suplício. Mas ele não era louco de se trair —deixava para vomitar no hotel.
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