Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Apagando Woody Allen

Seus verdugos farão com que ele nunca tenha existido

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Julia Roberts e Woody Allen em cena de 'Todos Dizem Eu te Amo'
Julia Roberts e Woody Allen em cena de 'Todos Dizem Eu te Amo' - Divulgação

Um amigo, o psiquiatra e professor Elie Cheniaux, mandou-me um cartão de feliz 2019 ilustrado por uma cena de “Todos Dizem Eu Te Amo”, a sublime comédia musical de Woody Allen, de 1996. Elie é coautor (com J. Landeira-Fernandez) de um livro surpreendente e terrível, “Cinema e Loucura — Conhecendo os Transtornos Mentais Através dos Filmes”, de 2010. Woody é um de seus heróis, juntamente com, entre outros, Billy Wilder, Nelson Rodrigues, Freud, Van Gogh e Zico.  

Enviar um cartão de boas-festas com uma imagem de Woody Allen exige hoje certa coragem. Nos últimos meses, a campanha nos EUA para destruir Woody como artista parece ter sido vitoriosa. Ele tem um filme pronto há um ano, “A Rainy Day in New York”, e sem previsão de lançamento porque a produtora, a Amazon, teme que um boicote decrete seu fracasso na bilheteria. 

A acusação de ter abusado de sua filha adotiva Dylan Farrow quando ela tinha sete anos, iniciada meses depois do suposto fato por sua ex-mulher, Mia Farrow, e ultimamente martelada pela propria Dylan, nunca foi provada. Mas quem quer saber? 

Se seu filme já pronto tem poucas chances de ser exibido, pode-se presumir que ele nunca mais encontrará quem financie os que ainda poderia fazer —e sua média como diretor, desde 1969, era de um filme por ano, para deleite de seus fãs, dos críticos e, desde há muito, dos historiadores do cinema.

E este é o ponto. Um articulista da revista The New Yorker perguntou-se outro dia se ainda poderíamos gostar dos antigos filmes de Woody Allen. Ou seja: seus verdugos não se limitarão a extirpar Woody do cinema de agora em diante, mas a partir do próprio dia em que ele começou ou, quem sabe, nasceu. Será como se nunca tivesse existido.

Essa prática não é nova. Era comum na URSS do ditador Stálin, cujos ex-aliados “sumiam” de repente, apagados dos documentos, das fotos e da própria história.

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