Sempre crítico, mas secretamente fascinado pela tecnologia, leio que os ingleses acabam de inventar um software para resolver o problema do bloqueio criativo —o branco que acomete ficcionistas e os impede de continuar a escrever uma história que tenham começado. Esse programa, chamado Charisma, resolve o problema. Você o abastece com o que já escreveu e ele responde com sugestões sobre o que os personagens poderiam ou deveriam fazer. Ou seja, em um segundo, o Charisma sabe mais do que você sobre os personagens que você próprio criou. Não é o diabo?
O nome disso é Inteligência Artificial, e significa que chegamos ao ponto em que as máquinas, além de aprender umas com as outras —o que já é corriqueiro—, estão agora em posição de nos ensinar. Por sorte, o Charisma ainda parece ter uma limitação —por enquanto, só entende inglês. Significa que, um dia, quando aprender português, poderemos pelo menos rir das gafes que ele inevitavelmente cometerá.
Nos anos 80, pré-computador, um jornal do Rio implantou um sistema de composição chamado OCR, sigla em inglês para Reconhecimento Ótico de Caracteres. Era genial, mas já sofria daquele problema: só sabia “falar” inglês e não reconhecia os acentos do português. Daí que, ao passar por uma palavra em português contendo um acento, não o reconhecia e pulava a letra do acento.
Então aconteceu que, no dia seguinte à estreia do sistema, os assinantes do jornal leram atônitos na coluna social que havia “duas grã-finas no cio em Petrópolis”. E que, segundo o crítico de música clássica, certas passagens de um concerto no Municipal “flanavam em direção a um cu mavioso”.
As grã-finas, naturalmente, estavam no “ócio em Petrópolis”. E a música “flanava em direção a um céu mavioso”. O OCR não reconheceu as letras com acento e cortou-as. A Inteligência pode ser, às vezes, a Burrícia Artificial.
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