Outro dia ("Avaliando o avaliador", 9/8), escrevi que, não importa nossa profissão, estamos tendo de nos tornar engenheiros eletrônicos, para fazer frente às complexas operações da tecnologia. Como essa complexidade só tende a aumentar, e tendo eu já passado da idade de aprender novos truques, talvez ficasse impossibilitado de continuar exercendo minha única especialidade: fazer perguntas, ouvir respostas e botá-las no papel. E terminei dizendo que, em último caso, iria para a lavoura.
Um leitor, Ezequiel Nunes, aconselhou-me a tirar, literalmente, o cavalo da chuva: "A lavoura também já está tomada pela tecnologia, Ruy", ele escreveu. "Drones fazem pulverizações comandadas remotamente. Tratores não são mais guiados --podem ser autônomos ou seguem rotas enviadas por um software. A comunicação entre as pessoas é só por aplicativos instantâneos. Até os telefones sumiram. As plantas que conhecíamos desapareceram, e são cultivadas apenas as desenvolvidas pelos grandes laboratórios. Os bons tempos da lavoura se foram".
Foi bom o Ezequiel ter avisado. Eu, veterano urbanóide, planejava visitar chácaras e granjas aqui do estado do Rio, para me familiarizar com a saga das galinhas poedeiras, das porcas botando suas crias para fora e do combate ao berne do boi. Decidira trocar meus discos de Lucio Alves, Miltinho e João Gilberto pelos da música sertaneja de butique. Falando em butique, começara também a me informar sobre a indumentária autêntica do gênero: chapéus Stetson americanos, botas texanas, camisas de franjas. E, embora nunca tenha subido em um cavalo, cheguei a apreçar um suprimento de selas, alforjes e esporas.
Já me imaginava torcendo pelo caubói que persegue a pobre vaca a cavalo e a agarra pelo rabo, quebrando-o. Enfim, estava pronto a adentrar esse fascinante universo.
Mas desisti. O ar na zona rural anda irrespirável ultimamente.
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