Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Eleito para bater boca

O 'kkkkk' de Bolsonaro é perfeitamente aplicável a quem quer transformar o país num galinheiro

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Um colega português me perguntou o que, para um jornalista brasileiro, significa ter Bolsonaro como presidente. Respondi que Bolsonaro é um desastre sob todos os pontos de vista, menos um —o do jornalismo. Ele é uma infindável notícia. Todos os dias, em vez de ficar em seu gabinete tratando dos graves problemas do país, faz o contrário. Cria mais problemas.

Vai para a porta do Planalto e, diante de apoiadores laçados para aplaudi-lo, bate boca com os repórteres encarregados de acompanhá-lo. Ele mesmo provoca o assunto e, quando perguntado, devolve uma verborragia recheada de solecismos, escatologias e palavrões. Os jornalistas têm mantido até agora uma impecável postura profissional —aguentam os insultos e, quando se dirigem a Bolsonaro, o fazem de maneira protocolar, como deve ser. Mas quase posso ver a hora em que um deles, farto, o mandará à merda. E sabe o que irá acontecer? Nada.

Bolsonaro rebaixou a fala presidencial a tal nível de botequim de última categoria —com todo respeito pelos queridos botequins de última categoria— que não poderá se sentir desrespeitado. Como não tem ideia de educação ou etiqueta presidencial, achará normal receber de volta um desaforo semelhante aos que despeja contra todo mundo. É o que faz também com as mensagens que arrota no Twitter com sua opinião —ou as que covardemente reproduz, como fez com a que ofendia a primeira-dama da França, concordando com seu conteúdo e acrescentando o cafajeste “kkkkkkkkkk”. ​

Até há pouco, no Brasil, a representação gráfica do ato de rir era “Ah, ha, ha!” —uma risada máscula, grave, sonora. Ultimamente, passou-se a usar “kkkkkkkkkk”, cujo som lembra mais um cacarejo, um espasmo galináceo, indigno de um povo que já produziu Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa.

Mas perfeitamente aplicável a um presidente que quer transformar seu país num galinheiro.

 

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