Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

À sombra do homem

Algumas mulheres só se realizaram quando se livraram de seus maridos

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Rio de Janeiro

Em 1897, a carioca Julia Lopes de Almeida, 35 anos, ajudou seu amigo Machado de Assis a fundar a Academia Brasileira de Letras. Mas, ao escalar os 40 primeiros titulares, a ABL alegou que, como não podia receber mulheres, o marido de Julia, o poetastro Filinto de Almeida, entraria em seu lugar. Era ridículo. Mas Julia nunca se deixou vitimizar. Continuou amiga de Machado e dos acadêmicos —mesmo porque ganhava mais dinheiro do que eles como escritora.

A alemã Clara Wieck poderia ter sido uma fabulosa compositora do século 19. Mas, ao se casar com Schumann, teve de deixar tudo pelo papel de mãe —oito filhos— e companheira do marido. Já Pierre e Marie Curie inventaram a radiologia e ganharam um Nobel a dois em 1903. Mas Pierre morreu em 1906 e, sem ele, Marie criou o aparelho de raios X, introduziu a radioterapia no tratamento do câncer e ganhou sozinha outro Nobel. Mesmo assim, para tantos, nunca deixou de ser a 
viúva de Pierre Curie.

A francesa Colette teve seus primeiros romances, que sacudiram Paris, assinados por seu marido, o infame jornalista Willy. Mas bastou livrar-se dele, aos 33 anos, em 1906, para se tornar uma instituição: romancista, contista, dramaturga, atriz, jornalista, lançadora de moda, amante dos gatos e adorada mundialmente. A poeta americana Sylvia Plath também teve de viver à sombra da poesia de seu marido, Ted Hugues. Sylvia precisou morrer, em 1962, aos 30 anos, para que seu prestígio pusesse o de Hugues no chinelo. E só agora se sabe quanto a coreografia de Bob Fosse deveu à sua mulher, a bailarina Gwen Verdon, empurrada para a coxia.

Falando em bailarina, é como dizia Ginger Rogers, que, nos anos 30, formou com Fred Astaire a maior dupla de dança do cinema. “A plateia só olhava para ele. Não era justo. Nos filmes, eu fazia tudo que Fred fazia —só que ao contrário e de salto alto”.

Acho que isso define tudo.

Ginger Rogers e Fred Astaire em cena de "Roberta", filme dirigido por William A. Seiter
Ginger Rogers e Fred Astaire em cena de "Roberta", filme dirigido por William A. Seiter - Reprodução

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