Palo Alto, a 35 km de San Francisco, na Califórnia, hoje é sede do Google, da Apple, do Facebook e de outras instituições de que nos tornamos escravos. Em 1968, no entanto, Palo Alto não era grande coisa. Ou era só uma cidade americana como outras, com cerca de 30 mil habitantes e uma razoável população estudantil. Um de seus colégios, o Palo Alto High School, tinha um grêmio recreativo e seu programador, Danny Scher, 18 anos, era fã de jazz.
Danny ficou sabendo que seu ídolo, o pianista Thelonious Monk, ia se apresentar por três semanas no Jazz Workshop, uma boate de San Francisco. Descobriu o telefone de seu agente e ousou perguntar-lhe se, num dia de folga, Monk toparia esticar até a vizinha Palo Alto e dar uma canja em sua escola. O agente disse “Claro!”. E por que Thelonious Monk se sujeitaria a tocar para secundaristas, num piano talvez desafinado? Talvez porque, em 1968, ele já não fosse o mesmo Monk. Seus dias de co-inventor do bebop e criador de um estilo pianístico só dele já iam longe. Estava doente, deprimido e a gravadora CBS não queria renovar seu contrato. O jazz parecia estar deixando-o para trás.
Danny mandou buscá-lo de carro em San Francisco e, na hora marcada, sob forte emoção, uma plateia integrada de Palo Alto, brancos e negros, viu Monk subir ao palco com seus músicos. Alguém perguntou se podia gravar o show. Podia. Monk tocou “Well You Needn’t”, “Evidence”, “Epistrophy”, todos os clássicos. Agora, 52 anos depois, aqueles sons acabam de sair num CD da Impulse, “Palo Alto”.
O que me fascina nessa história é que, um dia, um adolescente se atreveu a convidar um monstro da música para tocar em seu colégio. Pelo visto não se falou em dinheiro, nem eles poderiam pagar o cachê de Monk.
Sabe por que muitos monstros, inclusive os nossos, no Brasil, nunca tocaram de graça para garotos de colégio? Porque não foram convidados.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.